Jornal O Globo repercute ação do GAECO contra advogados de Joaçaba, Água Doce, Ouro e Piratuba

Reportagem do jornal O Globo repercute a Operação Balthus realizada no final da semana passada no meio-oeste catarinense. Advogados de Água Doce e Joaçaba foram presos e duas outras advogadas de Ouro e Piratuba também estão sendo investigadas.

Foram detidos um advogado e sua esposa em Joaçaba, além de uma advogada em Água Doce. O trio é acusado pelo Ministério Público de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Outra advogada de Ouro está na mira do Gaeco pelas mesmas acusações, e teve o seu registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SC) suspenso.

A operação foi batizada de “Balthus”, um tipo de nó de gravata triangular grande e volumoso, muito usado por advogados. Na organização administrada por integrantes de facções, os defensores que se prestam a trabalhar para a aliança criminosa são apelidados de “gravatas”. Esses defensores recebem dinheiro para fazer a ponte entre os bandidos presos e os que estão em liberdade. O trabalho dos advogados é conhecido como “sintonia” e é facilitado pelo livre acesso que têm ao parlatório das penitenciárias a qualquer hora do dia.

Na mesma investida do Gaeco, foram autorizadas a quebra do sigilo telefônico e busca e apreensão na casa e no escritório dos advogados catarinenses. Todos são suspeitos de envolvimento com a facção criminosa. Se condenados, os advogados podem pegar até 30 anos de prisão.

O advogado em pior situação na operação é o de Joaçaba. De acordo com Ministério Público, desde 2020, o advogado visitou o líder do PGC 38 vezes. Aos olhos do Ministério Público, esse número é alto demais. Segundo outros advogados fora do caso e que defendem traficantes condenados, a visita a esse tipo de cliente não chega a duas por ano. O líder foi condenado a mais 40 anos por tráfico de drogas, homicídio, latrocínio e sequestro. Alan cumpre pena na Penitenciária Industrial de Chapecó.

No dia 12 de abril de 2020, o condenado deixou a penitenciária para a “saidinha” de Páscoa. Na mesma data, seu rival no tráfico, Jarlei Corrêa, foi brutalmente assassinado no município de Luzerna (SC).  Ele  foi preso novamente e condenado posteriormente por homicídio. O aparelho do traficante foi apreendido quatro dias depois do crime. Numa mensagem recuperada, ele informa que o celular foi levado até ele na penitenciária por um “gravata”.

De acordo com o relatório do Ministério Público, numa das visitas suspeitas do advogado de Joaçaba e da advogada de Ouro à penitenciária onde o líder está preso, ocorrida em 25 de maio de 2021, eles teriam repassado um celular para outro traficante, que entregaria ao líder, seu chefe. O detento engoliu o aparelho assim que pegou das mãos dos “gravatas”. No entanto, o traficante foi obrigado a passar pelo scanner corporal, que apontou o aparelho escondido em seu estômago. No dia seguinte, o advogado tentou entrar mais uma vez na penitenciária, mas foi impedido pela administração justamente por causa do aparelho encontrado no corpo do traficante. Procurada, a defesa dos envolvidos não quis se manifestar sobre o caso.

O advogado preso é um advogado famoso em Santa Catarina. Circulava pelo interior vestindo ternos bem cortados. Sua vida profissional e pessoal havia ganhado um novo sentido desde que ele saiu da UTI, em 2021, onde ficou 40 dias em coma, devido a complicações da Covid-19. Atualmente, ele é presidente do PSD municipal de Joaçaba, e estava em plena campanha como pré-candidato à prefeitura do município. Após a prisão, o PSD declarou, por nota, que “reitera seu compromisso com a legislação e a ética em todas as esferas”, e que não compactua com desvios de conduta. Ainda segundo a legenda, punições “exemplares” será adotadas caso a investigação demonstre a participação do advogado.

Contratada pela prefeitura de Joaçaba (SC) com salário de R$ 10 mil, a esposa do advogado, movimentou nos anos de 2021 e 2022, R$ 2,8 milhões em sua conta bancária. Com o seu sigilo bancário quebrado, foi possível comprovar que ela fez vários depósitos na conta do pai do traficante. A esposa também recebeu em sua conta corrente depósito em dinheiro de R$ 20 mil de outro traficante, aumentando ainda mais as suspeitas contra ela.

Segundo as investigações, a advogada de Água Doce, outra “gravata” presa na operação “Balthus”, teria sido arregimentada pelo colega também preso. Os dois chegaram a montar um escritório de advocacia juntos em 2021, no município de Capinzal (SC). Apesar do advogado ser efetivamente o defensor do traficante, foi a advogada que passou a realizar as visitas para ele, seja presencial no parlatório ou virtualmente. Durante o ano de 2022, a advogada teve 14 audiências com o traficante. O que chamou a atenção dos investigadores do Gaeco é que ela não fez qualquer petição a favor do bandido nesse período.

“Essas visitas às penitenciárias ilustram o modo de agir da advogada de Água Doce e de outros advogados admitido por ela numa interceptação telefônica. Ou seja, eles usam da prerrogativa da advocacia para colher informações com um faccionado. Na sequência, os advogados difundem os recados, em verdadeira atividade de ‘sintonia’, para outros que estão presos e também para integrantes que estão em liberdade. Essa é a verdadeira prestação de serviço percebida dos advogados”, diz o relatório do Ministério Público.

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