Ex-judoca mira medalha inédita no breaking das Olimpíadas e se considera “artleta”

Ao som de um solo de trompete de Miles Davis, Menno van Gorp está intensificando seu treinamento antes das Olimpíadas de Paris deste ano.

O músico de jazz tem sido uma figura influente na carreira de Van Gorp no breakdance — seu som suave e ritmos livres são uma fonte constante de inspiração para cada nova rotina.

“Adoro praticar ao som de jazz”, disse van Gorp à CNN. “Sinto mais liberdade e me desperta mais criatividade quando pratico com jazz. Além disso, a parte da improvisação no jazz é enorme. Eu acho que isso realmente reflete bem com o break”.

Van Gorp, de 35 anos, um b-boy competitivo dos Países Baixos conhecido simplesmente como Menno, é uma esperança de medalha nas próximas Olimpíadas, onde o breakdance — ou breaking — fará sua estreia como o mais novo esporte dos Jogos.

Breaking é esporte?

De repente, ver sua performance rotulada como esporte não é algo que necessariamente agrada a b-boys e b-girls — o nome dado a homens e mulheres que competem no breaking.

Tem algumas semelhanças com eventos olímpicos pré-existentes, como artes marciais, ginástica e skate, mas também trará a sua própria identidade subversiva aos jogos desse ano.

“Agora, estamos sob a bandeira do esporte, mas, para mim, ainda é uma arte”, diz van Gorp, que se autodenomina um “artleta” nas redes sociais. “Acho que o breaking é tão único que é impossível colocar em uma caixa só. São muitas coisas juntas, e também é uma expressão”.

Do ouvido e cérebro ao dedo do pé

Uma rotina de breakdance de alta pontuação requer uma mistura única de força, resistência, agilidade e flexibilidade, bem como os recursos mentais para garantir que os movimentos não sejam repetidos e fluam perfeitamente entre si.

Você usa literalmente todas as partes do seu corpo, incluindo seus ouvidos, seu cérebro, seu coração, seus dedos dos pés e seus calcanhares… Eu uso as pontas dos dedos, uso a ponta do meu cotovelo — todas as partes do seu corpo que você pode usar. Acho que é preciso muita habilidade física para ser um bom b-boy

Menno van Gorp, b-boy

Breakdance
O breakdance estreia como modalidade competitiva na Olímpiada de Paris, prevista para 2024 / Foto: Reprodução/Twitter

Van Gorp praticou judô antes de entrar no breaking, que se consolidou em sua cidade natal, Tilburg, durante a década de 1990.

Primeiro, todo mundo colecionava cartas de Pokémon, depois todo mundo tinha ioiô. De repente, todo mundo começou a dançar break

Menno van Gorp

Van Gorp fez formação no judô

Depois de oito anos de judô, ele começou a achar o esporte muito restritivo e o espaço para a criatividade, muito estreito.

“O breaking me deu muita liberdade em comparação ao judô”, acrescenta van Gorp. “O breaking é uma liberdade total para mim, por isso gostei muito. Em outros esportes, você está sempre limitado por muitas regras”.

História do breaking

Originado em Nova York no final da década de 1960, o breaking ganhou popularidade global e hoje é sinônimo de um subgênero específico do estilo de rua — tênis, calças de moletom e bonés de beisebol usados em ângulo.

Van Gorp, como muitas crianças que descobriram o breakdance pela primeira vez no início dos anos 2000, obteve perspectivas assistindo a vídeos granulados e conversando sobre rotinas com seus amigos antes de praticar nos Países Baixos e no exterior.

Foi ao vencer o campeonato do Reino Unido em 2007 que van Gorp diz que “explodiu na cena” e começou a competir com mais regularidade.

Papa-títulos

Ele conquistou títulos em todo o mundo, inclusive no WDSF World Breaking Championship 2019 e três vitórias nas finais mundiais do Red Bull BC One — um feito igualado apenas pelo b-boy sul-coreano Hong 10.

Van Gorp comemora a vitória na final mundial de breaking do Red Bull BC One em Mumbai, Índia / Little Shao/Red Bull

O breaking é o primeiro evento da Federação Mundial de DanceSport (WDSF, na sigla em inglês) a ser adicionado ao programa olímpico e, em Paris, 16 b-boys e 16 b-girls se enfrentarão em batalhas individuais com a trilha sonora de hip-hop de um DJ.

Eles se revezam na execução de uma rotina e são avaliados por um painel de jurados com base em seis critérios: criatividade, personalidade, técnica, performance, variedade e musicalidade.

Preparação para os Jogos Olímpicos

Com as Olimpíadas em mente, van Gorp faz treinos de até duas horas e meia por dia, além de sessões de ginástica e calistenia — treinamento de força com peso corporal, como flexões e abdominais — em busca de ganhar o ouro.

Tal feito, diz ele, seria um grande impulso para sua vida.

Estou construindo aqui um estúdio de dança em Roterdã e trabalhando também na nova geração aqui. Acho que conseguir uma medalha seria muito útil para minha carreira para fazer coisas acontecerem para a próxima geração — aquele tipo de carimbo em seu nome

van Gorp

Além de fundar sua escola de dança, van Gorp também é fotógrafo amador. Ele pinta — geralmente grandes telas listradas com linhas de cores vivas —, tem sua própria marca de roupas e é pai de dois filhos.

De olho na vaga em Paris

Sua vida, portanto, é um malabarismo enquanto treina para as Olimpíadas, que é o que o consome nesse momento. Para se qualificar para os Jogos Olímpicos, van Gorp espera ser selecionado por meio da Olympic Qualifier Series em maio e junho.

Van Gorp ministra workshop de breaking em Lyon, França, em 22 de maio de 2022 / Baptiste Fauchille/Red Bull

Como toda competição de breaking, isso testará não apenas seu movimento e criatividade no calor de uma batalha, mas também sua memória: a originalidade é recompensada e os competidores são pontuados por repetirem movimentos entre as rodadas.

Tudo se resume à preparação. Eu estudo muito meu material. Encontrei formas de ajudar a memória para lembrar minhas coisas, então dou nomes aos meus movimentos. Faço rimas, conecto-as com momentos da vida. Eu as conecto com músicas que gosto. E eu anoto as coisas, tento, leio de volta, visualizo e você escolhe entre as competições que material sobra. E então, na batalha, tudo deverá se encaixar

Van Gorp

“Lutador de jaula”

Van Gorp se compara a um “lutador de jaula” no meio de uma batalha. “Eu realmente preciso ter aquele fogo, não se trata mais de ser um cara legal”, diz ele, e acredita que gosta de ser espontâneo e imprevisível durante competições.

“Muitos movimentos inesperados, muita criatividade”, identifica como características de suas rotinas. “Meu estilo é definitivamente baseado em fluxo e transições, e acho que é preciso ter um olhar muito bem treinado para entender o que realmente estou fazendo. Se você piscar uma vez ou desviar o olhar, pode ter perdido um detalhe importante”.

Embalado pelo jazz de Miles Davis

Ter um estilo único pode ser fundamental para o breaking, como acontece com qualquer forma de arte ou música. É algo que atraiu van Gorp a Miles Davis em particular. “Ver quantas vezes ele se reinventou e ainda permaneceu autêntico consigo mesmo, é uma grande inspiração para mim”, diz ele.

Poucos outros atletas, se é que algum, irão aperfeiçoar a sua arte aos sons emotivos da música jazz antes dos Jogos Olímpicos deste ano, mas isso é parte do que torna o breaking uma adição tão intrigante.

“Se você quer fazer arte”, diz van Gorp, “você quer fazer algo que seja realmente você — e não outra pessoa”.

Acompanhe CNN Esportes em todas as plataformas

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

versão original

source
Fonte : CNN BRASIL

Adicionar aos favoritos o Link permanente.