Análise: partido AfD da Alemanha foi longe demais mesmo para extrema-direita da Europa

Um político alemão de direita fez comentários considerados tão explosivamente fora do discurso político aceitável, que o seu partido foi isolado por outros líderes de extrema direita, quebrando uma importante coligação no Parlamento Europeu.

Maximilian Krah, do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), disse a um jornal italiano que não considerava automaticamente todos os membros de um notório grupo paramilitar nazista como criminosos.

Ele alegou que alguns membros da SS, cujo papel principal era proteger os campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, eram na verdade apenas agricultores.

“Antes de declarar alguém criminoso, quero saber o que ele fez. Entre os 900 mil homens da SS havia também muitos agricultores: havia certamente uma elevada porcentagem de criminosos, mas nem todos o eram. Nunca direi que alguém que usasse um uniforme da SS era automaticamente um criminoso”, disse Krah ao La Repubblica no fim de semana passado.

Desde então, a AfD proibiu Krah, de 47 anos, o seu principal candidato nas eleições europeias em junho, de fazer aparições públicas.

Especialistas dizem que as suas observações também causaram repercussões em toda a extrema-direita da Europa, lançando uma luz sobre a forma como os partidos de extrema-direita do continente veem a si próprios e as suas associações.

Depois que a entrevista de Krah foi publicada no dia 18 de amio, seu partido o suspendeu na quarta-feira (22) e disse que ele havia assumido “total responsabilidade” por suas ações e concordou em renunciar ao conselho executivo federal com efeito imediato.

Numa declaração contundente, a AfD acusou Krah de ter causado “danos enormes ao partido na atual campanha eleitoral”.

Não está imediatamente claro se Krah continua a ser o principal candidato oficial da AfD para as próximas eleições europeias.

Lorenz Blumenthaler, analista político da Fundação Amadeu Antonio em Berlim – que dirige projetos educacionais e investiga o extremismo de direita, o racismo e o antissemitismo – disse à CNN Internacional que a AfD só toma medidas como esta em determinadas circunstâncias.

“O único momento em que existe essa linha vermelha é quando eles sentem que isso está prejudicando o resultado da votação. E esse será o único momento em que eles agirão ou se temem que isso basicamente mude a forma como as forças de segurança alemãs os veem como AfD.”

Blumenthaler acrescentou que repreender Krah tão perto de uma eleição importante é um passo político bastante drástico.

Isso “deslegitima você como partido político e o prejudica muito mais do que apenas concorrer com um cachorro preguiçoso [ou candidato peso morto]”, disse ele à CNN.

Expulso de coalisão

Na quinta-feira (23), uma coligação de partidos de extrema-direita no Parlamento Europeu expulsou a AfD do grupo.

O bloco Identidade e Democracia (ID) afirmou num comunicado que decidiu excluir a AfD, “com efeito imediato”, acrescentando que “o Grupo ID não quer mais ser associado aos incidentes envolvendo Maximilian Krah, indicado da AfD para as eleições europeias.”

Em Paris, os líderes do partido de direita francês Reunião Nacional (RN) – o sucessor da Frente Nacional liderada por Marine Le Pen, e parte da aliança ID – também se dissociaram da AfD.

O presidente do RN, Jordan Bardella, disse num debate na televisão francesa na terça-feira (21) que a AfD tinha “cruzado os limites”.

“Teremos novos aliados depois das eleições europeias e não estaremos mais no mesmo grupo da AfD”, acrescentou Bardella.

Joe Düker, investigador do think tank Centro de Monitoração, Análise e Estratégia (CeMAS), disse à CNN que os partidos europeus de extrema-direita, e o RN em particular, têm tentado apresentar-se como mais moderados.

“Os populistas de extrema-direita estão sempre tentando apelar a uma ampla base eleitoral e estão sempre tentando dar a si próprios uma imagem que pareça mais limpa do que realmente é. Sabemos que o partido de Le Pen tem tentado limpar a sua imagem nos últimos dois anos. Ela rompeu com o pai, o fundador daquele partido, por causa disso.”

Blumenthaler descreveu esta limpeza de imagem como a “dinâmica mais absurda que temos, uma nova autoconsciência de extrema direita em toda a Europa”.

No entanto, esse sentimento de autoconsciência não parece tocar a AfD.

Houve uma série de incidentes em que membros da AfD expressaram abertamente ideologias de extrema direita na Alemanha. Escândalos recentes também envolveram membros acusados ​​de espionar para a China e de aceitar subornos da Rússia.

Björn Höcke, líder regional da AfD no estado oriental da Turíngia, foi multado em 13 mil euros (R$ 72.470) por um tribunal alemão no início de maio por usar slogans nazistas proibidos, segundo a N-TV, afiliada da CNN Internacional.

Höcke, um ex-professor de história, pretende concorrer como principal candidato da AfD nas próximas eleições estaduais, em setembro, e é atualmente o favorito para vencer.

Segundo Blumenthaler, estes incidentes não parecem prejudicar o partido, especialmente na Alemanha.

“Depois de basicamente derrubar a coligação europeia [de extrema-direita], isso prejudica realmente a AfD a nível europeu, mas não creio que vá afetar tanto a sua base eleitoral aqui na Alemanha”, acrescentou.

Mais do mesmo

Düker disse à CNN que a tendência de aumento do extremismo da AfD provavelmente continuará. “Podemos esperar que coisas mais radicais e extremas se tornem mais aceitáveis”, disse ele.

O radicalismo aberto da AfD é também um fenômeno interessante para Blumenthaler, especialmente quando comparado com os seus aliados europeus.

“Ainda são os austríacos e os ramos alemães de extrema-direita que são os mais loucos. Seria de pensar que o tabu devido ao passado alemão e austríaco seria muito maior aqui. E que a extrema direita agiria de forma muito mais estratégica, tentando encobrir o que dizem e como agem, mas em vez disso estão se tornando cada vez mais radicalizados”, disse ele à CNN.

A AfD está sob vigilância interna pela ameaça que representa para a democracia alemã e, apesar de uma recente queda, está atualmente com engajamento maior do que cada um dos três partidos da coligação que agora governa o país.

Düker notou uma semelhança entre a AfD e Donald Trump, acrescentando que: “Quanto mais escândalos e mais coisas ultrajantes o ex-presidente dizia, mais os seus seguidores pareciam comprometer-se ainda mais com ele. E algo semelhante parece estar acontecendo com a AfD”.

Com informações de Barbie Nadeau e James Frater 

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Fonte : CNN BRASIL

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