Mecânicos voluntários consertam 300 motores náuticos em ponto de resgates na zona norte de Porto Alegre

Ian de Medeiros, 33 anos, é mecânico náutico e morador da zona norte de Porto Alegre. Com a enchente que alagou a cidade, ele resolveu ajudar como voluntário nos resgates. Primeiro, entrou na água com um barco. Depois, acabou montando, junto com o pai e outros voluntários, uma oficina para as embarcações que saíam e chegavam no viaduto Eduardo Utzig, na Rua Dom Pedro II com a Avenida Benjamin Constant, ponto de referência para resgates nos bairros Navegantes, São Geraldo, Humaitá.

Em cerca de 10 dias, eles estimam ter consertado cerca de 300 motores. O espaço utilizado para o serviço era uma lavagem que estava fechada em razão da cheia. O grupo conseguiu autorização com o proprietário e passou a não só trabalhar, como dormir no local.

O pai de Ian, o também mecânico Verdier de Medeiros, 64 anos, também precisou ser resgatado. Ele mora junto à oficina da família, que também foi afetada pelo alagamento.

— Quando eu cheguei lá, a água estava em 1m70cm, por aí. Quase tudo estragou. No primeiro dia, eu fiquei bem desesperado. A gente começa a salvar as pessoas e pensa “ah, é dos outros”, vamos resgatar e dizemos que o que importa é a vida, mas eu tive um pouquinho da dor que elas sentiram quando eu cheguei na oficina. Chorei bastante — relatou Ian.

Seu Verdier, que tinha demorado um pouco mais para sair de casa, logo também se afeiçoou ao trabalho voluntário na oficina e ganhou reconhecimento do grupo que atuava nos resgates na região. Na madrugada desta segunda-feira (20), ele vestia uma jaqueta bordada com seu nome e o cargo de “mecânico chefe” nos resgates. O agasalho foi presente dos parceiros que fez no voluntariado.

— A gente vai ficar mais ou menos de prontidão até quinta-feira (23), quando parece que vai chover bastante, porque se encher, ainda tem muita gente que ficou em casa. Tem aqui uns cinco ou seis barcos ainda, bastante motor, bastante mantimento para a Vila Dique. A gente vai ficar a postos, mas, se baixar totalmente a água, que espero que isso aconteça, aí vamos tentar retomar um pouco a nossa vida também — projetou Ian.

Quando perguntado se ficou surpreso com acabar montando uma oficina náutica de voluntários na beira de um viaduto alagado, Ian diz que estava preparado:

— Ano passado eu pedi um propósito de vida, estava bem ruim em razão da depressão. Meio que eu fui preparado por ser mecânico náutico e crescer numa área alagada. Então não me surpreendeu o que tá acontecendo.

Nas últimas semanas, o local ficou marcado pela organização para resgates de pessoas e animais vindos de regiões como o Humaitá. Na madrugada desta segunda, apenas os voluntários da oficina e uma viatura da Brigada Militar (BM) estavam no ponto de resgate. (GZH)

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