

Nas redes sociais, Tábata Miqueletti afirma ser especialista em reaver valores perdidos por vítimas de golpes online – Foto: @tabatamiquelettii/Instagram/Reprodução/ND
A influenciadora e advogada Tábata Miqueletti foi acusada por ex-clientes de golpes digitais e pirâmides financeiras que teriam gerado mais de R$ 3 milhões de prejuízos para as vítimas. Nas redes sociais, onde acumula 139 mil seguidores, Tábata ostenta viagens internacionais, bolsas e roupas de grife.
Segundo a advogada, ela é especialista em recuperar valores perdidos de clientes enganados na internet. “Venha comigo e nunca mais caia em golpes na internet”, diz ela nas redes.
As informações são da F5, que entrevistou sete supostas vítimas da advogada. Eles afirmam ter sido orientados a transferir dinheiro para a Designo, fundo de investimentos de Tábata e do ex-marido, Rafael Lins. O ex da advogada está preso desde janeiro e é investigado por estelionato. À Folha de S.Paulo, ambos negaram as acusações.
Suposta vítima afirma ter perdido R$ 2,7 milhões: ‘economia da minha vida inteira’
Kátia Brito, de 56 anos, relata que contratou Tábata para um processo de divórcio. Ela teria sido instruída por Tábata a transferir R$ 2,7 milhões para o então marido da advogada, Rafael. O valor iria para um banco da Suíça, onde, supostamente, ficaria protegido na partilha de bens.
No entanto, após ter transferido as economias, Kátia conta que descobriu que a ação não era necessária.
“Essa conta era anterior ao meu casamento, não corria risco nenhum na partilha. Mas ela insistiu que eu mandasse para a Suíça e eu confiei cegamente nela. Perdi a economia da minha vida inteira”, disse Kátia à F5.
Desde que transferiu o dinheiro, ela conta que recebia extratos mensais da conta na Suíça. Porém, em dezembro de 2024, descobriu que os registros eram falsos e não teve mais acesso à conta. Kátia afirma estar com depressão e dificuldades financeiras.
Quando foi confrontar a advogada, a suposta vítima afirma que foi surpreendida pela informação de que Tábata e Rafael estavam separados.
“Quando procurei a Tábata, ela me disse: ‘Ele deu golpe em todo mundo e você foi mais uma’”, afirma Kátia.
Rafael Lins foi acusado de violência doméstica e preso há seis meses após ter descumprido uma medida protetiva. Já na última sexta-feira (23), o MPSP (Ministério Público de São Paulo) pediu a quebra de sigilo bancário de Rafael Lins por suspeita de estelionato. Enquanto isso, Tábata se mudou para Brasília e está casada com outro homem, também influenciador.
‘Não imaginava que a advogada que eu tinha contratado para me defender de um golpe ia me aplicar outro golpe’
Parte das supostas vítimas entrevistadas pelo F5 afirma ter sofrido golpes quando investiram na Designo. A empresa, descrita como “uma plataforma de investimento em criptoativos”, foi aberta em 2023 nos nomes de Rafael e Tábata, então marido e mulher. Ao jornal, as vítimas afirmam ter perdido acesso às contas onde investiram repentinamente.
Felipe Elias, de Niterói (RJ), conta que contratou Tábata após perder R$ 200 mil em um esquema de pirâmide. Ele pagou R$ 20 mil pela defesa da advogada, após ela ter entrado em contato pelo WhatsApp e se oferecido para processar a empresa.
No entanto, meses depois, ele afirma ter sido coagido a investir na Designo.
“Coloquei R$ 1.000 de tanto que ela encheu meu saco, com o perdão da palavra. Não imaginava que a advogada que eu tinha contratado para me defender de um golpe ia me aplicar outro golpe”, disse o ex-cliente.
Conforme as vítimas, Tábata procurava suas vítimas. Ela as chamava pelo WhatsApp, oferecia seus serviços como advogada e prometia que a pessoa teria o valor perdido devolvido. Após ser contratada, ela indicava o investimento na Designo.
O que dizem Tábata e o ex-marido
O ex-marido da advogada, Rafael Lins, foi preso após citar o nome de Tábata em um vídeo nas redes sociais, descumprindo a medida protetiva. À Folha, o advogado de Rafael afirma que ele foi “surpreendido com o fim abrupto do relacionamento” e que nega as acusações de ameaça, violência doméstica e violência patrimonial, que deram origem à medida. Rafael ainda não constituiu defesa para a acusação de estelionato.
Já Tábata foi contatada por meio de sua assessoria de imprensa e pediu que as perguntas fossem enviadas por e-mail. No entanto, quando a reportagem da F5 tentou fazer isso, o endereço fornecido se mostrou inexistente.
A reportagem insistiu com a assessoria de imprensa, que parou de retornar. O advogado de Tábata, David Garcia, afirmou “não ter conhecimento” das acusações contra ela.