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CANNES — O nome Julian Assange circula na mídia mundial desde 2010, depois do vazamento de imagens do ataque de helicópteros americanos contra civis e repórteres no Iraque, em 2007. Como a trajetória do jornalista e ativista australiano é marcada por muitos percalços, principalmente pelas batalhas judiciais que enfrentou, o documentário The Six Billion Dollar Man passa a sua vida a limpo.
Projetado em caráter hors concours nesta 78ª edição do Festival de Cannes, a ser encerrado neste sábado, 24 de maio, o longa-metragem se propõe a recapitular o que Assange fez para se tornar quase um “inimigo número um” dos Estados Unidos.
Para começar, em 2006, o jornalista fundou o WikiLeaks, organização sediada na Suécia que publica documentos confidenciais de governos e empresas. O título do documentário é uma referência aos supostos US$ 6,5 bilhões que o governo do Equador teria cobrado dos Estados Unidos, em 2019, durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump.
Esse teria sido o preço para ajudar os americanos com a extradição de Assange, revogando o seu asilo político, graças ao qual ele viveu sete anos na embaixada equatoriana em Londres.
O fim do asilo foi o que possibilitou a prisão do jornalista, hoje uma figura emblemática na luta pelo direito à informação. Assange passou cinco anos encarcerado no Reino Unido — até ser libertado, em junho de 2024, ao concordar em se declarar culpado na acusação de violar a lei de espionagem americana.
Mas por que essa caça a Assange, em uma trama que lembra roteiros de thrillers hollywoodianos?
“Como Assange expôs segredos, como os crimes dos Estados Unidos no Iraque e em outros lugares, o governo americano não poupou esforços para destruí-lo, assim como o WikiLeaks”, contou o diretor do filme, Eugene Jarecki, em um encontro com o público em Cannes, que teve cobertura do NeoFeed.
Ainda sem data para estrear no Brasil, The Six Billion Dollar Man se concentra nos últimos 15 anos de Assange. Em particular, nas batalhas jurídicas que o ativista travou com o governo americano, sempre tentando processá-lo e puní-lo por publicar documentos militares confidenciais.
“Tudo o que ele fez foi simplesmente colocar um espelho diante das forças armadas dos Estados Unidos”, afirmou o documentarista.
Trechos do vídeo que iniciou a perseguição, intitulado Collateral Murder, são mostrados novamente aqui — até porque foi esse material que projetou mundialmente o Wikileaks. E as imagens do ataque aéreo americano de 12 de julho de 2007 a Bagdá, onde civis iraquianos e dois jornalistas foram mortos, continuam chocantes.
Jarecki ainda faz questão de lembrar no documentário que a primeira reação do governo dos Estados Unidos, com o vazamento do vídeo, foi começar a caçada a Assange, por considerá-lo uma “ameaça à segurança nacional”. E não se preocupar com a conduta ilegal dos soldados americanos, o que seria o esperado.
“A verdade tem o seu preço”
O documentário começou a ser rodado quando Assange ainda estava encarcerado na Inglaterra e os Estados Unidos pressionavam por uma extradição. Lá, ele enfrentaria uma possível sentença de 175 anos de reclusão (em prisão de segurança máxima), pela publicação de mais de 700 mil documentos sigilosos sobre ações militares americanas.
“Quando comecei a investigação, percebi que havia elementos de um filme de espionagem, embora não estivesse lidando com ficção. Para se ter uma ideia, Assange foi espionado ilegalmente dentro da embaixada do Equador, em Londres, por agentes dos Estados Unidos”, comentou Jarecki, conhecido também por Why We Fight (2005), um documentário sobre o complexo militar-industrial que o governo americano mantém desde a Segunda Guerra Mundial.
Embora Assange tenha passado por Cannes para prestigiar a première mundial do documentário, o ativista, atualmente com 53 anos, não deu entrevistas na Riviera Francesa, deixando Jarecki e o próprio filme falarem por ele.
A produção traz algumas imagens inéditas, principalmente de arquivo pessoal rodado por Stella Moris-Smith Robertson, advogada do WikiLeaks e atual mulher de Assange, com quem ele teve dois filhos durante a temporada na embaixada equatoriana.
Enquanto estava na prisão, o jornalista também teve problemas de saúde, incluindo um derrame, sofrido em 2021.
“A verdade tem o seu preço. Ao longo dos anos, algumas informações divulgadas sobre Assange foram manipuladas por aqueles que estavam no poder, tentando difamá-lo”, disse Jarecki, referindo-se às acusações de estupro contra Assange, feitas na Suécia, onde as autoridades acabaram abandonando as investigações.
“O tempo se encarregou de colocar as coisas no lugar, o que torna o momento perfeito para a première do The Six Billion Dollar Man, com Assange livre”, destacou o documentarista. “O governo americano perdeu.”
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Neofeed