
Intenção do Poder Executivo é transformar Brasil num ‘polo mundial’ para o armazenamento de dados. Ambientalistas se preocupam com impacto ecológico das instalações. O governo federal pretende anunciar nos próximos dias a Nova Política de Data Centers. A ideia é transformar o Brasil num polo mundial desse tipo de atividade, o que, na visão da equipe econômica, traria retorno financeiro e tecnológico ao país.
Mas a iniciativa deve enfrentar críticas de ambientalistas, que temem o impacto dessas instalações no consumo de energia e de água do país (entenda ao longo dessa reportagem).
Os data centers espalhados pelo mundo, atualmente, são considerados pouco sustentáveis do ponto de vista ecológico.
Entenda abaixo nesta reportagem o que são os data centers, o que o governo pretende criar e as críticas à ideia.
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O que são data centers?
Data Centers são instalações compostas por máquinas e sistemas de alta complexidade destinados ao armazenamento, processamento e tráfego de dados de internet.
Essas estruturas garantem segurança, velocidade e capacidade para inúmeras operações cotidianas na rede.
O presidente da Associação Brasileira de Data Centers (ABDC), Renan Lima Alves, explica ao g1 que data center é a “casa” dos servidores, que são os computadores responsáveis por processar todas as informações digitais que usamos diariamente.
No Brasil há 162 Data Centers, segundo estimativas da Associação Brasileira de Data Center. A maior concentração está no Sudeste, com 110. Logo na sequência vem o Sul, que registra 27, depois o Nordeste, com 15. O Centro-Oeste tem 8, e o Norte, 2.
Data center nos Estados Unidos, em imagem de arquivo
Reuters
O que o governo pretende criar?
O governo já finalizou a Nova Política de Data Centers – e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve apresentá-la nos próximos dias, segundo o secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços, Uallace Moreira.
A política foi estruturada de modo a não só atrair investimentos, mas também desenvolver a cadeia produtiva do setor.
“É uma política que vai promover a atração dos investimentos, mas não só. É uma política para o desenvolvimento da cadeia produtiva, essa é uma cadeia produtiva existente no Brasil da parte de tecnologia da comunicação e informação”, explica o secretário.
“Porque os data centers em si, se você não tem e não pensa o desenvolvimento da cadeia produtiva, eu instalo as data centers, importa toda a máquina e o equipamento, e tchau. Vai gerar, vamos supor, num projeto de 4 mil empregos, 3800 na construção, na infraestrutura, e quando acabou a obra, acabou o emprego”, contextualiza.
“Então se eu pensar em data centers como um elemento estratégico, por exemplo, para aplicação de inteligência artificial dado que a gente está avançando para a indústria inteligente, indústria 4.0, isso vai ser fundamental”, defende Moreira.
Considerando que 60% dos serviços de infraestrutura digital do país estão no exterior, a política também tem por objetivo buscar a soberania digital do país, uma vez que essa dependência se reflete em um déficit anual de R$ 6 a 8 bilhões na balança comercial brasileira.
O Brasil também quer destacar suas vantagens competitivas, como a capacidade de produzir energia limpa, localização privilegiada, além da condição geográfica, para atrair investimentos.
Mas a proposta não é só o “investimento pelo investimento”.
“Tem que ter uma contrapartida, e qual é? É que também haja uma demanda por tecnologia da informação e comunicação para o Brasil e que estimule o investimento no adensamento dessa cadeia produtiva”, explica Moreira.
Também está prevista a isenção de bens de capitais que não sejam produzidos no Brasil. Se houve produção no país, como meio de proteção da indústria nacional, a isenção não se aplica.
Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a medida é uma “antecipação da reforma tributária sobre o consumo” para o setor digital.
“A antecipação dos efeitos da Reforma Tributária vai permitir que todo investimento no Brasil, no setor, seja desonerado, e que toda exportação de serviços a partir dos data centers também seja absolutamente desonerada”, explicou Haddad.
A política foi coordenada pela Casa Civil, junto aos ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; Fazenda; Ciência, Tecnologia e Inovação; Minas e Energia; além do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
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Quais são as críticas em relação à ideia?
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Haddad defendeu, no começo deste mês, que “queremos que a economia digital no Brasil seja simultaneamente digital e verde”.
Para isso, ele disse que o objetivo é prover as data centers de energia limpa e processar os dados com segurança cibernética e jurídica, a fim de oferecer ao mundo “o melhor tipo de serviço possível”.
Moreira Lima assegurou que a preservação do meio ambiente foi um ponto de consideração das discussões sobre a política.
Em nota, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima disse que “participará do processo de regulamentação da Política Nacional de Data Centers, etapa em que serão definidas suas salvaguardas e critérios ambientais”.