Médica que teve dados usados em site falso para venda de canetas emagrecedoras fingiu ser cliente para denunciar golpistas


Rachel Franchim teve nome e dados profissionais utilizados de forma indevida em esquema que forja venda das medicações. Ela e o marido fingiram interesse na compra, obtiveram dados bancários e CPF de quem receberia os valores e registraram boletim de ocorrência. Médica que teve dados usados em site falso fingiu ser cliente para denunciar golpistas
Após ter o nome e os dados profissionais usados ilegalmente em anúncios de canetas emagrecedoras na internet, a médica de Campinas (SP) Rachel Franchim e o marido se passaram por clientes para denunciar os golpistas à Polícia Civil.
O nome de Rachel e os cadastros dela no Conselho Regional de Medicina (CRM) e no Registro de Qualificação de Especialista (RQE) foram usados em um site que anuncia esse tipo de produto. A foto, no entanto, é de outra pessoa. Além disso, medicamentos como Mounjaro, Ozempic e Wegovy só podem ser vendidos em lojas físicas e sites oficiais de farmácias e drogarias.
A médica endocrinologista descobriu o caso em 28 de abril, após ser procurada por uma mulher que queria comprar as canetas.
Rachel e o marido entraram em contato com o site fingindo interesse nas medicações e obtiveram dados bancários e o CPF de quem receberia os valores. Os dados foram informados à polícia no boletim de ocorrência que registraram no último dia 4 de maio.
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Na conversa, o marido descobriu que foi indiretamente usado no esquema, já que os golpistas diziam que a conta que receberia o pagamento seria do marido da médica, ou seja, dele mesmo. Os dados passados pelos golpistas, no entanto, são de outra pessoa.
“A revolta que fica é em relação à facilidade que [uma pessoa] pode obter essas informações, montar um site, enganar… E o que a gente pode fazer para que isso não aconteça? Para a pessoa se blindar e não ser vítima de um golpe como esse?”, questiona a médica.
Mounjaro (tirzepatida), para tratamento de diabetes tipo 2, estará disponível nas farmácias do Brasil a partir da primeira quinzena de maio
divulgação Lilly
Para dar credibilidade ao negócio, o site imita a logomarca e o nome de uma distribuidora de produtos hospitalares. Os golpistas também usam indevidamente o nome das farmacêuticas Eli Lilly e Novo Nordisk, além da Anvisa.
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Contato de interessada
A mulher que queria comprar o medicamento mandou mensagem no WhatsApp do consultório em que a médica trabalha, em Campinas (SP), perguntando sobre a venda dos medicamentos.
No áudio, a interessada relatou que viu um anúncio sobre a suposta venda das canetas emagrecedoras no Tik Tok. Ela foi direcionada ao site falso que usa o nome da Medbit, entrou em contato para fazer a compra e foi informada de que precisaria passar por consulta.
Ao questionar os dados de quem seria o profissional responsável, recebeu as informações de Rachel. Em seguida, os golpistas disseram que o pagamento da consulta deveria ser feito antecipadamente.
A mulher estranhou e pediu o endereço para a consulta, mas não teve retorno. Então, decidiu buscar pela médica na internet e encontrou o telefone da clínica em Campinas.
Rachel Franchim e o marido fingiram ter interesse nas medicações para conseguir mais informações dos estelionatários e conseguirem fazer denúncia à Polícia Civil
No áudio enviado à clínica de Rachel, a mulher interessada no medicamento admite que sabe que o Mounjaro ainda não está à venda no Brasil, mas diz que o “pessoal está trazendo meio que clandestinamente”. Em seguida, ela afirma que a orientação recebida era de passar por consulta.
Na mesma mensagem em áudio, a interessada ainda explica que foi orientada a pagar a consulta antecipadamente e, ao pedir o endereço da médica, não recebeu resposta.
“Aí eu fui buscar sobre a médica e eu vi que a médica fica no interior de São Paulo. Por isso que eu entrei em contato, porque eles têm até um site, e o próprio site tem a foto da médica”.
Depois, uma segunda pessoa procurou a médica, dessa vez com a intenção de avisar que consultas em seu nome estavam sendo marcadas através de um número de telefone com DDD 11 pelo WhatsApp.
O marido de Rachel entrou em contato com o mesmo número, fingindo ter interesse em realizar a consulta e comprar os medicamentos. Confira as mensagens acima.
“A gente até conseguiu a conta corrente, o banco, o CPF dessa pessoa, que provavelmente nem existe, que seja um laranja. E, através disso, a gente foi incluindo tudo isso dentro do boletim de ocorrência também”, conta Rachel.
Segundo ela, os dados foram apagados pouco após o envio, mas o marido anotou as informações para registrar o boletim de ocorrência. Ao ler as mensagens, o casal foi surpreendido e descobriu que o marido também estaria sendo usado para aplicar o golpe.
“Meu marido, quando entrou em contato, ainda falaram que a conta de depósito é do marido da doutora”, conta a médica.
A médica conta que encontrou a foto original usada no site em pesquisa na internet e chegou à pessoa que teve a imagem usada de forma indevida. A mulher, cujo rosto aparece ao lado do nome de Rachel, é uma endocrinologista de Itatiba.
“Ela é uma médica também endocrinologista, que não estava ciente do caso. Eu mesma acabei mandando um WhatsApp para o consultório dela. […] Mandei o site, mandei o cartão de visita que estava a foto dela junto ao meu nome, para que ela realmente tomasse as medidas, um boletim de ocorrência”, relata Rachel.
O caso ficou registrado como estelionato. O boletim de ocorrência, feito pela internet, foi encaminhado ao 11º Distrito Policial de São Paulo para investigação.
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