A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos enfrentou um dos piores resultados financeiros de sua história recente, encerrando o ano de 2024 com um prejuízo de R$ 2,6 bilhões. A cifra representa um aumento de mais de quatro vezes em relação ao déficit de R$ 597 milhões registrado em 2023. O rombo, segundo a estatal, é atribuído em grande parte à chamada “taxa das blusinhas”, medida adotada pelo governo federal que afetou diretamente as operações da companhia.
A “taxa das blusinhas”, como ficou popularmente conhecida, refere-se à taxação de encomendas internacionais de pequeno valor — especialmente vindas da Ásia — voltadas para o varejo de baixo custo. A medida foi justificada pelo Executivo como uma forma de proteger o comércio nacional, mas teve como efeito colateral a forte queda na demanda por entregas internacionais, impactando diretamente a principal fonte de receita dos Correios nos últimos anos.
Em nota oficial divulgada nesta segunda-feira (12/5), a empresa declarou que o impacto da medida foi “positivo para o varejo nacional, mas negativo para os Correios”, uma vez que reduziu drasticamente o volume de encomendas internacionais, especialmente de empresas como Shein, Shopee e AliExpress, que utilizavam intensamente a logística da estatal.
O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, também destacou que o prejuízo está ligado a um “legado de sucateamento” da empresa, que passou anos sem investimentos adequados em modernização, estrutura e tecnologia. Ainda assim, segundo ele, foram aplicados R$ 830 milhões em investimentos ao longo de 2024, incluindo a renovação da frota e a ampliação da infraestrutura logística e tecnológica da estatal.
Medidas de contenção anunciadas
Diante do quadro preocupante, os Correios anunciaram um conjunto de medidas austeras para conter os gastos e reequilibrar as contas. Entre elas estão a suspensão de férias e do regime de trabalho remoto para parte dos funcionários, revisão de contratos, congelamento de novas contratações e redução de despesas operacionais.
A expectativa é que essas ações resultem em uma economia de até R$ 1,5 bilhão ao longo de 2025. Paralelamente, a estatal também firmou uma parceria com o New Development Bank (NDB) – o banco dos BRICS – para captar R$ 3,8 bilhões em investimentos. O processo, segundo a empresa, ainda está em fase de tramitação.
Outros fatores que pressionaram negativamente as finanças da empresa incluem o aumento das despesas judiciais com precatórios e contingências, além do crescimento da concorrência com empresas privadas de logística, que vêm ampliando sua participação no mercado de entregas urbanas e interestaduais.
Privatização fora da pauta
Apesar da crise financeira, o governo federal descartou qualquer plano de privatização dos Correios. A estatal havia sido incluída no Programa Nacional de Desestatização (PND) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), mas foi retirada logo no início da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2023.
O atual governo defende a manutenção da empresa sob controle estatal e busca formas de aumentar suas receitas por meio da retomada de projetos abandonados, como parcerias com plataformas privadas de marketplace e investimentos em comércio eletrônico.
Segundo fontes do Palácio do Planalto, a avaliação é de que os Correios ainda desempenham papel estratégico na integração nacional e na prestação de serviços públicos em regiões remotas, onde empresas privadas não têm interesse comercial.
Críticas e reações
A divulgação do prejuízo bilionário gerou reações negativas entre servidores e especialistas do setor. Entidades sindicais apontam que a crise financeira não pode ser usada como justificativa para retirada de direitos ou cortes em benefícios trabalhistas. Já analistas avaliam que o modelo de negócio da empresa precisa ser urgentemente reestruturado, com foco em competitividade e inovação, sob risco de perder ainda mais espaço no mercado.
Na internet, consumidores também demonstraram insatisfação com os serviços da estatal, especialmente em relação a atrasos nas entregas, extravios de encomendas e falhas no rastreamento.
A expectativa agora recai sobre os próximos passos da gestão dos Correios, que terá o desafio de recuperar o equilíbrio financeiro, sem comprometer sua função pública e mantendo-se relevante em um mercado cada vez mais disputado.
Apesar do cenário desafiador, a direção da empresa se mostra confiante de que as medidas adotadas — combinadas com novos investimentos e ajustes operacionais — permitirão a reversão do quadro nos próximos anos. Enquanto isso, os olhos da sociedade e do governo seguem atentos ao desempenho da estatal, cuja sobrevivência depende, mais do que nunca, de uma guinada estratégica sólida e eficaz.