Tartaruga resgatada recebe cuidados

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Tartaruga-cabeçuda foi encontrada no mar de Intermares | Fotos: Divulgação/Aquário Paraíba

Após um resgate emocionante que mobilizou voluntários, caiaques, motos-aquáticas e o Corpo de Bombeiros, no último dia 7, a tartaruga-cabeçuda de 110 kg, retirada do mar na praia de Intermares, em Cabedelo, segue em tratamento intensivo no Aquário Paraíba, na capital. De acordo com os veterinários responsáveis, mesmo debilitada, ela tem se mostrado bastante ativa e já conseguiu expelir parte do plástico que ingeriu, o que é considerado um bom sinal.

“O quadro dela segue estável”, reforça Emmanuel Lopes, engenheiro ambiental e diretor do equipamento. Os próximos passos incluem exames de imagem, como raio-x e ultrassonografia, que devem ser realizados hoje, para avaliar a necessidade de cirurgia.

Hugo Cantalice, um dos profissionais da equipe responsável pela reabilitação da tartaruga, explicou à reportagem que o animal está recebendo suplementação multivitamínica para fortalecer o organismo, além de anti-inflamatórios e antibióticos. “Também aplicamos óleo mineral no casco para evitar o ressecamento”, acrescenta.

Já as etapas seguintes dependem diretamente de sua resposta ao tratamento. Para que possa ser devolvida à natureza, a tartaruga precisa retomar a alimentação normal, submergir com autonomia e apresentar um trato intestinal limpo nos exames, sinais de que seu sistema digestivo está recuperado.

Segundo Thiago Nery, veterinário responsável pelo caso, a principal preocupação no momento é identificar o tipo de plástico ingerido pela tartaruga, o que será fundamental para definir o protocolo de tratamento. Plásticos mais flexíveis, como sacolas de supermercado, costumam causar obstruções que, embora preocupantes, são mais fáceis de tratar com reidratação e estímulo do trânsito intestinal.

“O problema são os plásticos duros, como os de copos, que craquelam com o tempo e se quebram no formato de figuras geométricas. Se eles passam para o intestino, podem dilacerá–lo”, alerta. Nesses casos, a gravidade aumenta significativamente, já que esse movimento interno pode comprometer toda a extensão do órgão. Por isso, apesar do quadro estável, a equipe mantém a vigilância. “Por agora, ela está se recuperando bem. Está ativa, fez tratamento de dor, está usando antifiséticos [medicações para prevenir gases] e se encontra bem”, resume o veterinário.

Monitoramento

Ainda sem previsão de alta, o animal segue sob monitoramento intenso da equipe veterinária após apresentar acúmulo de gases, condição que o impedia de submergir e que costuma estar associada à ingestão de resíduos plásticos. Mas, ao contrário do que costuma acontecer em casos assim, em que a tartaruga acaba encalhando na areia por estar fisicamente esgotada, a tartaruga-cabeçuda foi resgatada ainda no mar, o que, segundo a presidente da Associação Guajiru, Danielle Siqueira, pode ter feito toda a diferença. “Ela tinha força, o que dificultou o resgate, mas é um bom indicativo clínico”, explica.

Para a bióloga, que passou mais de cinco horas no mar durante a operação, o fato de o resgate ter ocorrido antes do encalhe pode lhe ter garantido horas preciosas de vida, favorecendo sua reabilitação. “Às vezes, a gente resgata animais tão debilitados que eles nem conseguem reagir, diferente dessa tartaruga. Mas, por estar nadando, constantemente, ela já não tinha mais força para vencer a correnteza”.

Operação de salvamento teve o apoio do Corpo de Bombeiros

Animal tem 110 quilos

Realizada na tarde da última quarta-feira (7), a operação de resgate começou por volta das 14h30 e estendeu- -se até 20h, envolvendo uma verdadeira força-tarefa liderada pela Guajiru, com apoio de voluntários e do Corpo de Bombeiros. Foi Danielle quem localizou a tartaruga e deu início ao resgate, utilizando um caiaque. “Achei que ela estivesse presa em algo, mas não estava. A flutuabilidade tinha sido afetada, provavelmente por gases decorrentes da ingestão de plástico”, relata. Como se tratava de um animal adulto, pesado e ainda com força, foi necessário reforço — e até as condições do mar dificultaram a ação. “A maré não estava baixa, o que dificultou bastante. Tínhamos que equilibrar o caiaque, amarrar o animal e lidar com as ondas e o vento. Fiquei o tempo todo na água marcando a posição dela, para que não se afastasse até conseguirmos concluir o resgate”, lembra.

Com a visibilidade já comprometida no início da noite, Danielle encarava aquela como a última tentativa. “Se perdêssemos a posição, seria muito difícil localizá-la novamente.” Após o resgate, o transporte até o Aquário Paraíba também se tornou um desafio, já que a entidade não possui veículo próprio. “Quem conseguiu viabilizar o traslado foi o secretário de Meio Ambiente de Cabedelo”, complementa. Apesar do esforço bem-sucedido, o quadro da tartaruga ainda exige cautela. Segundo a bióloga, o casco coberto por algas indicava que ela já estava à deriva há bastante tempo, o que reforça a gravidade da situação. Portanto, sua reabilitação não será simples, tendo em vista que casos de ingestão de plástico costumam envolver longos períodos de recuperação. “O animal que ingere plástico é muito difícil de retornar ao mar. Se ela conseguir se recuperar, estamos falando de um processo que pode durar meses”, finaliza.

Redes de pesca em áreas de reprodução ameaçam espécie

Infelizmente, casos como o da tartaruga-cabeçuda encontrada no mar de Intermares têm se tornado cada vez mais comuns na costa paraibana. Além da ingestão de resíduos plásticos, muitas tartarugas são encontradas presas em redes de pesca ou armadilhas.

“A gente teve um registro recente de uma tartaruga presa numa armadilha de lagosta. A sorte foi que a própria comunidade ajudou a soltá-la”, conta Danielle. O uso de redes em áreas de alimentação ou reprodução é, segundo ela, um dos principais desafios para a conservação da espécie no estado.

Para se ter ideia da dimensão do problema, a associação auxilia mais de 15 mil filhotes a chegarem ao mar a cada temporada reprodutiva, que acontece entre os meses de novembro e junho, mas muitos outros não têm a mesma sorte. E, para piorar, segundo dados da própria Guajiru, de cada mil filhotes, apenas um ou dois chegam à idade adulta.

É por isso que a morte de uma tartaruga em idade reprodutiva representa sempre uma perda significativa para o equilíbrio do ecossistema e gera tamanha comoção. “A gente se mobiliza por um animal como esse porque ele venceu todas as etapas da vida”, finaliza Danielle.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de maio de 2025.

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A União

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