A Força Aérea Brasileira (FAB) enfrenta uma verdadeira debandada de pilotos militares qualificados, que abandonam a carreira pública para ingressar na aviação comercial, especialmente na Latam, maior companhia aérea privada em operação no país. A situação levanta questionamentos sobre os rumos das prioridades do governo federal no setor de defesa.
Enquanto a Latam amplia sua malha aérea, com previsão de aumento de quase meio milhão de assentos até agosto de 2025, a FAB registra perdas consecutivas de aviadores, muitos dos quais altamente treinados e especializados em operações de caça e transporte.
“Formar um piloto de caça custa ao país cerca de R$ 2 milhões. E ele vai embora para ganhar o dobro, sem constrangimento de transportar político”, resume um oficial da reserva que prefere o anonimato.
Nova leva de militares abandona a farda
Segundo o portal especializado Aeroin, oito pilotos militares deixaram a FAB entre abril e maio de 2025. Desses, sete atuavam na aviação de transporte e um era piloto de caça. Eles foram aprovados em um rigoroso processo seletivo da Latam Brasil, que exige padrões técnicos compatíveis com os mais altos níveis da aviação civil.
Essa nova “turma” de transição soma-se aos seis militares experientes que saíram da FAB no fim de 2024, totalizando 14 baixas em menos de seis meses — um número suficiente para inviabilizar um esquadrão operacional completo, caso todos pertencessem à mesma unidade.
Latam oferece melhores salários, mais voos e estabilidade
A motivação dos aviadores é clara: melhores salários, maior estabilidade familiar e mais horas de voo. Um comandante de linha aérea internacional pode ganhar entre R$ 40 mil e R$ 50 mil, enquanto um piloto militar de nível avançado recebe cerca de R$ 20 mil. Além disso, o cotidiano militar inclui escalas imprevisíveis, transferência compulsória e envolvimento com tarefas burocráticas e operacionais que não atraem os mais jovens.
“A diferença salarial é de 100% ou mais, sem contar a previsibilidade da carreira”, revela um ex-militar que hoje atua em voos internacionais.
Incômodo com uso político da FAB e GTE
O Grupo de Transporte Especial (GTE), responsável por transportar autoridades como ministros do STF, deputados e o próprio presidente da República, é visto como um ponto de desgaste na carreira militar. Muitos pilotos relatam o incômodo de serem obrigados a transportar figuras envolvidas em escândalos judiciais, o que gera constrangimento até entre familiares.
“Ser obrigado a pilotar avião para quem deveria estar preso é motivo de vergonha. Muitos preferem nem comentar o que fazem dentro de casa”, relatou um militar da ativa sob anonimato.
Governo investe milhões para perder seus talentos
Formar um piloto de caça na FAB custa cerca de R$ 2 milhões ao erário público. Na iniciativa privada, esse valor gira em torno de R$ 200 mil a R$ 300 mil, considerando os custos com formação básica, simuladores e certificações. Ou seja, o Brasil investe dez vezes mais para preparar um profissional que logo será absorvido por empresas privadas que oferecem melhores condições.
Enquanto isso, o governo mantém baixos investimentos nas Forças Armadas, priorizando interesses políticos e uso institucional da FAB para fins não operacionais.