O produto está perto do fim do prazo de validade? A Gooxxy criou um algoritmo que resolve esse problema

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A Gooxxy foi fundada em 2018, mas o day one da empresa de recolocação estratégica de produtos é de dezembro de 2016. Pelo menos para seu criador, o advogado mineiro Vinicius Alves Abrahão. Mesmo quando ele trabalhava no mercado financeiro, seu sonho era construir um negócio de impacto socioambiental — sobretudo, com soluções para conter o desperdício de alimentos.

Pois bem, na manhã daquele dezembro de quase nove anos atrás, no início de sua jornada para compreender a indústria alimentícia e, assim, descobrir o que e como fazer, Vinícius foi conhecer uma fabricante de bolos em São Paulo.

A “naturalidade” com a qual seus interlocutores contavam sobre a quantidade de produtos jogados no lixo o deixou estarrecido. Ele imediatamente lembrou dos três meninos que o haviam abordado momentos antes de entrar na fábrica. Com fome, as crianças pediam dinheiro para comprar comida.

Do lado de fora, a miséria, a incerteza da próxima refeição. Dos portões para dentro, alimentos em perfeitas condições de consumo descartados apenas porque estavam prestes a expirar ou porque eram considerados inadequados para o mercado consumidor — fosse por imperfeições estéticas ou defeitos nas embalagens, entre outros problemas.

“Naquele momento, eu decidi parar o que estava fazendo e me dedicar a mudar essa realidade”, conta o empresário, de 41 anos, em conversa com o NeoFeed. “Aquele foi o day one.”

De lá para cá, Vinicius não só vem cumprindo a missão a que se propôs como tem levado a tecnologia criada pela Gooxxy para além das fronteiras brasileiras. No Brasil, apenas em 2024, a empresa evitou o desperdício de 7,8 mil toneladas de comida — o equivalente a 11,2 milhões de refeições resgatadas do fluxo de resíduos.

Os alimentos representam mais de 70% das operações, mas a Gooxxy também se dedica a recolocar no mercado bebidas e bens de consumo não duráveis, como produtos de higiene e limpeza.

Se levadas em conta todas as categorias, no passado, foram salvas do lixo 10,2 mil toneladas de mercadorias — quase o dobro do volume registrado em 2023, com 5,3 mil toneladas.

Com isso, a empresa preveniu a perda de R$ 1,5 bilhão, impediu a emissão de 11,9 mil toneladas de carbono (o equivalente à poluição lançada na atmosfera por quase 280 mil automóveis, ao longo de um ano) e preservou 11 milhões de metros cúbicos de água (o suficiente para abastecer 44 milhões de pessoas, por dia).

“Os impactos e os resultados gerados pelas operações da Gooxxy demonstram que estamos no caminho certo para contribuir para a erradicação da fome no mundo, além de fomentar a economia circular”, afirma o CEO. “Nossa meta é dobrar o número de produtos recolocados no mercado em 2025.”

Sem canibalização das marcas

Baseadas em inteligência artificial, as ferramentas desenvolvidas pela equipe de Vinicius permitem o monitoramento dos estoques das mercadorias próximas do vencimento ou fora dos padrões das grandes indústrias. A partir do cruzamento de uma série de informações, a IA da Gooxxy consegue dar vazão para produtos que, de outra forma, teriam o lixo como destino.

Todos os anos, a indústria brasileira perde de 1% a 3% de seu faturamento bruto com tais mercadorias. Só com descarte de alimentos, o prejuízo dos supermercados soma R$ 8 bilhões anuais — um contrassenso em um país onde 64 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar.

Na outra ponta, em geral, estão varejistas de menor porte que compram os artigos por preços reduzidos. Ou seja, é um jogo de ganha-ganha para todos. Para a indústria, que perderia 100% do valor de suas mercadorias. Para os comércios, que fazem o caixa girar. E, para uma boa parte dos brasileiros, que passam a ter acesso a itens pelos quais normalmente não teriam condições de pagar.

“Estamos no caminho certo para contribuir para a erradicação da fome no mundo, além de fomentar a economia circular”, diz Vinicius Alves Abrahão (Foto: Gooxxy)

O supermercados brasileiros perdem R$ 8 bilhões anuais, com alimentos com prazo de validade prestes a vencer ou com imperfeições tidas como inadequadas para o mercado consumidor,

O mundo põe fora um terço dos alimentos produzidos todos os anos

Diferente de empresas com propostas semelhantes, a Gooxxy não funciona como um outlet de produtos previstos para sair do mercado em breve. “Não é preciso acessar um aplicativo ou um marketplace”, diz Vinicius. “Com o cruzamento de dados, nós conseguimos saber o momento certo de fazer o direcionamento dos produtos. Nós apresentamos o pedido pronto para o O.K. do comprador.”

Tudo isso sem exposição de marca e, consequentemente, sem perigo de canibalização do negócio. Entre as cerca de 200 indústrias parceiras da Gooxxy estão gigantes como a Unilever, a Mondelez e a Nestlé. A coleta e distribuição dos itens cabem à alemã DHL Supply Chain. Hoje, Vinicius dispõe de oito centros de distribuição espalhados por todo o Brasil.

Um dos sinais incontestes do sucesso da Gooxxy é o que motivou a internacionalização da empresa. Por sugestão da Unilever, em 2023, Vinicius levou o negócio para a Colômbia e, agora, em março, para o México. Até o fim do ano, a empresa deve chegar à Argentina e, em 2026, ao Paraguai.

O modelo de negócios idealizado pelo empresário atraiu para seu conselho consultivo Agnaldo Souza, da Expresso Nepomuceno; Fernando Yunes, do Mercado Livre; Marcelo Di Lorenzo, da IRC; Thiago Viana, do iFood; e Yves Moyen, da iTransform e icircle.

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