Na Serra da Mantiqueira, o “império verde” do empresário Renato Machado

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“Esse é um projeto para dois mil anos.” É assim que o empresário Renato Machado explica o Ibiti, sua empreitada socioambiental iniciada ainda nos anos 1980 no entorno do Parque Estadual do Ibitipoca, em uma ramificação da porção mineira da Serra da Mantiqueira.

Hoje, o projeto une diversas iniciativas inovadoras junto às comunidades da região em um modelo de negócio amarrado ao turismo regenerativo. Ocupando uma área de mais de 6 mil hectares de rewilding, distantes cerca de duas horas de carro do aeroporto de Zona da Mata, o Ibiti de hoje foi construído aos poucos.

Mineiro de Juiz de Fora, economista formado pela UFJF, Machado começou a empreender com a família à frente da Y&M, empresa de mineração e construção. Em 1984, comprou uma fazenda na área colada ao parque estadual para transformá-la em reserva ambiental.

“Somos a geração que mais devastou o meio ambiente até hoje”, diz ele, em conversa com o NeoFeed. “Quando nasci, Amazônia e Cerrado ainda estavam praticamente inteiros, a Mata Atlântica estava pela metade. De lá para cá, a gente destruiu muito.”

Nessas quatro décadas de projeto, o empresário foi comprando pouco a pouco mais terras do entorno do parque, tentando criar um cinturão verde para conter o avanço da degradação urbana. Hoje, o Ibiti ocupa uma área superior a do próprio Parque Estadual.

Ali dentro, desenvolveu diversos braços para o mesmo negócio — ou distintos “empreendimentos”, como gosta de dizer. Há, por exemplo, quatro propostas de hospedagem diferentes, uma central de agricultura ecológica, escola, cooperativa feminina, dentre outros negócios, gerando um total de 300 postos de trabalho.

No programa Ibiti Empreendedores, Machado espera que cada novo braço seja uma iniciativa independente, com gestão própria, impulsionando outros moradores e profissionais da região a criarem e administrarem seus próprios negócios no Ibiti.

Cláudia Baumgratz, por exemplo, mineira nascida em Lima Duarte (município do qual o Ibiti faz parte), é a empreendedora à frente do Engenho Lodge, a mais luxuosa opção de hospedagem do projeto — unindo sustentabilidade e serviço impecável em um casarão de charme colonial com apenas 8 suítes.

“Começar um negócio no Ibiti me desafiou a pensar em impacto real. Aqui, a gente cresce junto com o território, respeitando a natureza e criando vínculos com quem chega”, afirma Cláudia, ao NeoFeed.

Com jacuzzi, sauna, spa, ali vistas incríveis, com montanhas verdejantes a perder de vista, e gastronomia de primeira são regra (as diárias no Ibiti Engenho Lodge incluem sempre pensão completa, além de passeios guiados diariamente).

Claudia implantou ali também um outro modelo de negócio idealizado pela colaboradora Marília Souza: o Meninas do Engenho, iniciativa que garante zero desperdício na cozinha através da confecção de bolos, biscoitos, conservas e doces diversos para vender aos hóspedes que querem levar um pouquinho das delícias do Engenho Lodge para casa. A renda é totalmente destinada às mulheres que tocam o serviço e a cozinha do hotel.

“Organismo vivo”

“O Ibiti não é um projeto com manual pronto, é um organismo vivo”, diz Machado. “Planejamos, mas também deixamos acontecer. A ideia é aprender continuamente, unindo liberdade, responsabilidade e regeneração.”

Além do Engenho Lodge, primeira empreitada turística do projeto, o Ibiti tem outras duas opções de hospitalidade já consolidadas: o Ibiti Village, com acomodações caprichadas em casas reformadas do minúsculo vilarejo de Mogol (com apenas algumas dezenas de moradores), restaurante vegetariano, cinema e escola; e o Ibiti Remote, com casas e restaurante bem isolados na reserva, imersos na natureza e administrados por um casal local.

E, até o fim do primeiro semestre, Machado lança seu quarto empreendimento de hospitalidade: a primeira Casa de Vidro, uma construção quase futurista em um ponto alto da montanha da reserva, totalmente automatizada, com paredes de vidro para garantir que a natureza nunca saia do horizonte do hóspede.

Em comum, todo hóspede de qualquer uma das acomodações do Ibiti usufrui das belezas naturais da enorme reserva em trilhas pelas montanhas, banhos de rio e lago (existem até piscinas naturais e “prainhas” formadas por areias com quartzito, mineral abundante por ali), passeios de bicicleta, cavalgadas e até SUP e caiaque.

Antes conhecido como Reserva do Ibitipoca e Comuna do Ibitipoca, o projeto Ibiti acabou ganhando fama nas redes sociais nos últimos anos também graças às sete imensas e fotogênicas esculturas My Big Family que o empresário instalou em uma das partes mais altas da reserva.

Feitas de metal reciclado, com até seis toneladas e nove metros de altura cada uma, as obras foram criadas pela artista americana Karen Cusolito para o festival Burning Man, realizado anualmente no deserto de Black Rock, em Nevada. As peças estão agora se fundindo literalmente à natureza, com a vegetação tomando conta de parte das estruturas.

“O Ibiti não é um projeto com manual pronto, é um organismo vivo”, define Machado (Foto: Divulgação)

Batizadas “My Big Family” e criadas pela artista americana Karen Cusolito, as esculturas é outro ponto “instagramável” do projeto (Foto: Divulgação)

A Life School é uma escola multilíngue criada para crianças da comunidade e filhos de colaboradores (Foto: Divulgação)

O café produzido pela marca Gaia começou a recentemente a ser exportado (Foto: Divulgação)

Entre as belezas naturais da reserva, estão as praias de água doce, como a do Engenho (Foto: Divulgação)

Entre os serviços oferecidos no Ibiti Village está o spa (Foto: Divulgação)

Com oito suítes, o Engenho Lodge é a opção mais luxuosa do projeto (Foto: Divulgação)

O projeto Ibiti ocupara área de mais de 6 mil hectares (Foto: Divulgação)

Entre as aatrações destacam-se as cacjoeiras, como a do Gritador (Foto: Divulgação)

Como uma espécie de santuário ecológico, o Ibiti criou um modelo bem peculiar de turismo regenerativo de baixo impacto, apoiando socioeconomicamente as comunidades locais e conservando o território.

O projeto também possui centro de reciclagem, onde são compostados todos os resíduos orgânicos da propriedade, e trabalha a reintrodução de espécies locais como jacutinga e muriqui-do-norte. O uso de energias renováveis, claro, faz parte da rotina por ali.

Inquieto, Machado decidiu ir além do turismo e criar dentro do projeto Ibiti uma espécie de laboratório para negócios regenerativos em geral. Todos os seus restaurantes são abastecidos com o máximo possível de insumos locais e regionais — com destaque para a produção da Gaia Produtos Ecológicos, braço do projeto administrado por Kelly Lima, por meio do qual se cultiva e se comercializa mais de 100 variedades de alimentos sem agrotóxicos (de grãos, legumes e verduras a um excelente café que começa agora a ganhar o mercado externo).

“Nosso objetivo é criar uma nova cultura de consumo, que respeite o tempo da terra e valorize o trabalho de quem cultiva com consciência”, diz Kelly ao NeoFeed.

No coração do Ibiti Village fica também a Life School, escola multilíngue criada para crianças da comunidade e filhos de colaboradores, com proposta pedagógica baseada em liberdade, contato com a natureza e desenvolvimento integral.

“A gente acredita que aprender é viver. Tiramos os muros da escola e integramos o cotidiano ao processo pedagógico”, explica a diretora Lane Machado ao NeoFeed.

Na expectativa de se tornar uma empresa listada na Bolsa, o Ibiti tem ainda um outro braço em andamento: o Ibiti Regenera, que propõe um modelo exclusivo de crédito de carbono através de reflorestamento, regeneração do solo e captura de carbono pelas florestas nativas.

“Estamos criando um modelo próprio, transparente e de alta integridade, para que investidores e empresas possam apoiar não só a compensação, mas a regeneração real do planeta”, explica ao NeoFeed Hugo Cambraia, CEO Júnior do Ibiti e gestor do Ibiti Regenera.

Focando também em parceria com empreendedores, universidades e investidores de longo prazo, o Ibiti também se transforma eventualmente em palco para retiros de bem-estar, concertos de piano, debates filosóficos e até grandes eventos, como o festival Muriqui Sounds.

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Neofeed

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