Clube começa a ser revitalizado

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Fundado em meio a um contexto de efervescência política e social, marcado, sobretudo, pela iminente Proclamação da República, o Clube Astréa teve sua gênese em 30 de maio de 1886. Na década de 1930, chegou a ofertar modalidades como tênis e basquete e, em 1942 e 1943, conquistou o Campeonato Paraibano de Futebol, beneficiando-se da desfiliação temporária do Botafogo-PB da liga local. Hoje, quase 140 anos depois, o espaço localizado no bairro Tambiá, que recebeu inúmeros eventos esportivos e culturais ao longo da história, é sinônimo de resistência e representação dos tempos áureos da capital pessoense.

Apesar de sua importância, a instituição começou a enfrentar dificuldades financeiras na década de 1980, que culminaram no encerramento das atividades no início da década seguinte. Há quase 20 anos, o Astréa é administrado por uma Junta Governativa, que, segundo o presidente Manoel Isidro, precisou reunir esforços e desempenhar um árduo trabalho para preservá-lo.

“A gente recebeu este clube com problemas que eu acho que todo clube do país já passou, que foram dívidas acumuladas por falta de pagamento de INSS, de FGTS, ação na Justiça do Trabalho com ex-funcionários, ou seja, esse tempo em que nós ficamos aqui foi para poder resolver toda essa pendência financeira de dívidas acumuladas ao longo dos anos”, relembra Isidro. “A gente quis livrar este patrimônio, que não é só do associado do Astréa, é da cidade de João Pessoa, se não dizer da Paraíba, porque quem tem pelo menos meio século, tem sempre uma história aqui dentro do Astréa: casou aqui, namorou aqui, teve formatura aqui ou participou de festas aqui, fez parte de natação aqui, enfim, todos têm uma história. Então o nosso interesse foi manter essa história, manter este patrimônio vivo de João Pessoa, e isso nós conseguimos”, acrescenta o presidente da Junta Governativa do clube pessoense.

 Parceria com a Prefeitura

Um dos principais objetivos da Junta Governativa do Astréa era revitalizar o espaço, transformando-o novamente em um importante centro esportivo e, ao mesmo tempo, promovendo seu reconhecimento como patrimônio cultural da cidade.

“Só encontramos dificuldades, mas fomos vencendo cada uma com muita perseverança, alugando as dependências do clube para poder ter recurso financeiro. Não cobramos dos sócios, porque nós não estávamos em condições de oferecer algo para eles. Uma estrutura que precisava de manutenção, a gente não tinha como fazer, então a gente priorizou pagar as dívidas, isso resolvemos. Agora, a gente entrou numa outra fase, a de recuperação da estrutura”, disse Isidro.

O projeto de reestruturação, que por anos foi apenas um sonho no papel, finalmente começou a ganhar forma no início deste mês, após visita do prefeito Cícero Lucena, que criou um comitê com o intuito de viabilizar uma parceria entre a Prefeitura de João Pessoa e o clube. O presidente da Junta Governativa explicou como funcionará a colaboração com o ente público.

“A Prefeitura vai utilizar a estrutura do Astréa, até mesmo porque quer trazer para cá a Fundação Campeões do Amanhã e a  Secretaria de Juventude, Esporte e Recreação [Sejer]. Então, a gente quer manter isso aqui como um clube, esporte, lazer, cultura, é o que a gente quer manter. Eu não queria pegar esse clube aqui e vender parte dele para fazer um prédio, por exemplo; não é objetivo nosso. O que a gente quer é manter o Astréa como o Astréa; deixamos isso bem claro para o prefeito Cícero Lucena e, para a nossa alegria, ele disse: ‘Nós temos o interesse de fazer essa parceria, mas deixando o espaço reservado para o associado. Nós vamos utilizar de segunda a sexta, e fim de semana é do associado. Quando a Prefeitura precisar do fim de semana do clube, a gente avisa, utiliza também, não vai ter problema nenhum, faremos tudo de comum acordo’”, ressaltou Isidro.

 Futuro

Para Manoel Isidro, o sentimento que impera em meio à Junta Governativa é de otimismo em relação ao futuro do local.

“Nós vemos com bons olhos. Porque, na realidade, era tudo o que a gente queria, manter o clube dentro dessa vertente do esporte, porque ele se destacou, em épocas anteriores, no esporte, então a gente quer manter isso. Essa parceria está vindo somar aos objetivos desta Junta. Essa Junta está aqui há cerca de 20 anos, primeiro foi para salvar o clube, salvar essa estrutura para João Pessoa e para o associado do clube, mas, ao mesmo tempo, o nosso sonho é voltar ao que era antes”.

Vislumbrar o futuro, no entanto, requer a semeadura no contexto atual — investir no presente, atraindo e formando jovens talentos, e reinventar-se com base na cultura de entretenimento imperante.

“Quando a gente começa a falar do que era antes, é como se a gente quisesse trazer o passado para o presente, mas temos que ter essa preocupação também de incluir os mais jovens. Então eu acho que a gente tem que trazer novas cabeças, cabeças mais jovens, até para que possam sugerir como pode ser feita essa inclusão dos mais jovens. Porque, dentro dos nossos seis mil associados, eu acho que boa parte já partiu, então a gente precisa renovar os quadros, trazer novas cabeças, e aí a gente construir junto aquilo que, ao longo do tempo, foi mudando”, defende Manoel.

“Em toda estrutura humana, sempre existiu a necessidade de clubes, só que eles ficaram específicos. Então hoje você encontrará o Clube do Feijão, o Clube da Cerveja, o Clube do Uísque, e clubes associados, digamos, a estruturas como, por exemplo, o Fisco Estadual. Aí você encontra, andando pela cidade, um clube com amigos de Itaporanga. Então as coisas ficaram muito específicas. O clube, de uma maneira geral, é muito mais complicado. A vertente para esse caso seria colocar o clube na direção do esporte. Você tem uma modalidade de esporte que hoje predomina, o futebol, mas você pode ter um clube de basquete e de esporte de maneira geral. Quer dizer, trazer coisas mais novas, mais, digamos, atraentes para um público mais jovem”, observa Reinaldo Muribeca, também integrante da Junta Governativa do Clube Astréa.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de abril de 2025.

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A União

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