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Em entrevista à revista americana The New Yorker, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou que, se Joseph Goebbels, chefe da propaganda nazista de Hitler, tivesse acesso à rede social X (ex-Twitter), os nazistas teriam conquistado o mundo. A declaração, no mínimo polêmica, foi feita em meio a críticas às chamadas big techs, que, segundo Moraes, tentam “controlar o mundo” e driblar as jurisdições nacionais.
A fala gerou espanto não apenas pelo teor histórico distorcido, mas pela banalização de uma das maiores tragédias do século XX em um paralelo forçado com uma plataforma de mídia social. Colocar o nazismo na equação do debate sobre liberdade de expressão na internet soa mais como hipérbole judicial do que como argumento sério.
“Se Goebbels fosse vivo e tivesse acesso ao X, estaríamos perdidos. Os nazistas teriam conquistado o mundo”, declarou o ministro, ignorando o detalhe de que os nazistas, com ou sem redes sociais, já haviam feito exatamente isso — e sem Wi-Fi.
A tentativa de Moraes de justificar medidas severas contra plataformas digitais, como o bloqueio do X no Brasil, é embasada em preocupações legítimas com desinformação e discurso de ódio. Mas comparações desse tipo têm o efeito oposto: sabotam o debate público ao dramatizar um tema que exige racionalidade jurídica, não teatro histórico.
Ao colocar Musk e o X na mesma frase que o Terceiro Reich, Moraes reforça o próprio estereótipo do “supremo censor”, disposto a esmagar qualquer divergência com retórica apocalíptica.
Além da comparação com o nazismo, Moraes também acusou as big techs de quererem formar uma “nova Companhia das Índias Orientais”, referência a uma organização imperialista que dominou rotas comerciais e territórios com autorização para usar força militar. Ele argumenta que empresas como a de Musk tentam operar acima das leis nacionais, tornando-se “imunes aos Estados”.
Apesar da crítica ter algum respaldo em preocupações globais sobre o poder das plataformas, vir de alguém que concentrou, no Brasil, um poder praticamente ilimitado sobre a internet, prende o debate em uma contradição monumental. Moraes critica o autoritarismo digital… com medidas autoritárias.
Em vez de debater a regulação das redes com base em fatos e proporções, o ministro prefere os atalhos da hipérbole: se não é nazismo, é dominação mundial. Se não é conspiração, é sabotagem institucional. O problema é que, ao transformar todo embate político em guerra moral, Moraes desfigura os próprios princípios que diz defender: democracia, responsabilidade e equilíbrio de poderes.
A régua que define o que é liberdade de expressão ou incitação ao ódio está sendo traçada com o marcador de um único ministro. E agora, com apoio explícito do presidente Lula, que também usou a entrevista à New Yorker para atacar Musk e associá-lo ao garimpo ilegal na Amazônia.
Enquanto isso, o debate sobre regulação da internet no Brasil segue onde sempre esteve: nas mãos de quem fala mais alto — e, aparentemente, com mais referências ao século passado do que soluções para este.

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Fonte : Hora Brasilia