Leilão de rodovias na rota do agro atrai um novo perfil de investidores

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Um sentimento misto de surpresa e desalento marcou o aguardado leilão de seis rodovias estaduais do Mato Grosso nesta sexta-feira, 14 de março, na B3. Dos seis lotes previstos para serem repassados a concessionários privados, num total de 2 mil km de rodovias, dois lotes não receberam propostas e tiveram a disputa suspensa.

No final, foram concedidos cerca de 1,3 mil km de rodovias, que vão gerar R$ 3,7 bilhões de investimentos dos cerca de R$ 8 bilhões previstos caso todos os lotes fossem arrematados.

O resultado, porém, ficou longe de decepcionar o governador Mauro Mendes (DEM), que destacou na B3 que os 1,3 mil km leiloados representam “o maior leilão da história do estado”, responsável por 30% do agronegócio brasileiro, e prometeu continuar investindo em infraestrutura.

Em nota divulgada mais tarde, o governo do Mato Grosso informou que a suspensão visa ao aperfeiçoamento necessário do certame. “Tão logo sejam concluídos os ajustes pertinentes, serão divulgadas novas informações acerca da retomada dos certames, incluindo eventuais alterações nos editais, bem como datas e prazos para apresentação de propostas.”

O grande número de novos entrantes no certame – que contou com 14 ofertas de nove grupos, muitos deles formados por empresas regionais, em consórcio com fundos de investimentos – foi destacado por especialistas ouvidos pelo NeoFeed.

O apetite dos investidores foi confirmado pelo deságio nas tarifas de pedágio. O lote 5, o primeiro a ser leiloado e arrematado pela CSInfra, do grupo Simpar, teve 8,33% desconto tarifa de pedágio. O grupo vencedor vai administrar 308 km de duas rodovias (MT-020 e MT-326).

Em seguida foram leiloados 237 km do lote 1, composto de quatro rodovias (MT-160/220/242/338). O consórcio vencedor, liderado pela VFGomes, propôs 8,5% de deságio de pedágio.

Os outros dois lotes tiveram grupos locais como vencedores. No lote 2, que teve o menor deságio de pedágio (2,3%), estavam em disputa 418 km de quatro rodovias (MT-160/235/249/480), vencido pelo Consórcio Rodoviário Rota da Produção.

Por fim, o Lote 8 foi arrematado pela Monte Rodovias, que pagou o maior deságio – 9,1%. Ela vai administrar 344 km de quatro rodovias: MT 170, MT-220 e MT-230.

Ewerton Henriques, sócio-diretor da SH Consultoria, que atua no mercado financeiro assessorando projetos de infraestrutura, afirma que a modelagem do leilão, incluindo os valores de investimento – típicos de projetos menores, se comparados com outros certames de grande porte –, facilitou a diversidade de players, atraindo empresas de médio porte.

“Esse leilão, em especial, teve muitas operadoras locais e construtoras não só do Mato Grosso como de outras regiões do País, o setor está carente de projetos com esse perfil”, observa Henriques.

Roberto Guimarães, diretor da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) e ex-secretário do Tesouro Nacional, não se surpreendeu com o apetite dos investidores no certame na B3.

“A diversificação de participantes foi talvez o ponto mais positivo desse leilão, tinha empresas regionais se associando a fundos de investimento ou entre elas, isso já vinha ocorrendo em leilões em Minas Gerais e no Nordeste, gerando emprego e renda local e, o mais importante, aumentando o número de participante nos projetos”, ressalta.

Segundo ele, os editais de leilões do Mato Grosso vêm evoluindo, com a inclusão de cláusulas prevendo reequilíbrio do contrato e step in de seguro – a chamada “cláusula de retomada”, que permite que a seguradora assuma a responsabilidade pela conclusão da obra ou serviço, caso a empresa contratada não cumpra suas obrigações, garantindo a continuidade do projeto.

Guimarães, no entanto, reconhece que a retirada de dois blocos de rodovias inicialmente previstos na licitação da disputa, devido à falta de propostas, indica uma falha evidente na modelagem do edital.

“Esse problema com dois lotes significa que o preço não estava adequado”, diz. “O setor privado só entra na disputa quando a conta risco-retorno faz sentido, foi o mesmo que ocorreu na Rota da Celulose, no ano passado, cujo leilão fracassou, e será refeito em melhores condições.”

Novo mapa de concessões

O especialista da Abdib destaca ainda a consolidação de concessões de rodovias para a iniciativa privada, uma realidade antes restrita a ativos de estados ricos da Região Sudeste, como um avanço para o setor.

“Pesquisas de opinião da Confederação Nacional de Transporte mostram os usuários mais satisfeitos em viajar em rodovias sob concessão privadas com pedágio do que em estradas estatais, pois percebem os ganhos com segurança e economia de combustível”, diz.

Em entrevista recente ao NeoFeed, o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, observou que o leilão da BR-364, em Rondônia – a primeira de uma rodovia federal na Região Norte do País -, que atraiu apenas um interessado, mostra que a novidade ainda não foi assimilada, tanto por investidores, receosos de operar uma rodovia longe dos grandes centros, como pelos usuários, incomodados por pagar pedágio.

Mas, para Santoro, as estradas do Centro-Oeste e do Norte tendem atrair concessionários por causa do crescimento da rota de escoamento do agronegócio em direção aos portos do Arco Norte, que segundo ele saíram de 2 milhões de toneladas de grãos por ano para 15 milhões de toneladas em 2024.

Segundo ele, mesmo com o pedágio, o custo logístico vai ser um terço menor do que descer a carga por outras rodovias até o porto de Santos.

Neste aspecto, o leilão das rodovias do Mato Grosso reforçou essa tendência. Os lotes leiloados se conectam com grandes corredores logísticos, principalmente a BR-163 e o terminal da operadora ferroviária Rumo, em Rondonópolis (MT), de onde os grãos costumam ser embarcados para portos como Itacoatiara (AM), Santarém (PA), Santana (AP), Barcarena/Vila do Conde (PA).

“Uma estrutura rodoviária mais robusta certamente tende a facilitar o escoamento de grãos para os portos do Arco Norte, mesmo porque o grande movimento dessas rodovias do Mato Grosso e de Rondônia é de carga do agronegócio”, diz Henriques.

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Neofeed

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