Jatahy quer bater “azzas” e derruba ações da Azzas 2154

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Os números já davam uma boa pista da magnitude da fusão entre a Arezzo e o Grupo Soma quando as duas empresas confirmaram que estavam unindo suas forças, em fevereiro de 2024. O acordo criava uma gigante do varejo de moda, com 34 marcas, mais de 2 mil lojas e um faturamento de R$ 12 bilhões.

Entretanto, à parte desses indicadores e da promessa de turbiná-los, desde o anúncio da operação, uma parcela relevante do mercado colocou em xeque o sucesso desse casamento. O motivo? Os riscos da associação entre duas personalidades fortes – Alexandre Birman, da AR&Co, e Roberto Jatahy, do Soma.

Passado pouco mais de um ano dessa união, os indícios apontam, cada vez mais, para que essa parte do mercado estava certa e que a fase da lua de mel ficou definitivamente para trás. É o que mostram as ações da Azzas 2154, a companhia resultante dessa combinação, nessa sexta-feira, 14 de março.

Os papéis do grupo despencaram ao longo do dia, consolidando a segunda maior perda do Ibovespa, atrás apenas da Natura, que viu suas ações derreterem 29,94% após divulgar seu balanço de 2024. No caso da Azzas, a queda foi de 10,42%, com as ações cotadas a 21,50.

“Ninguém pode acusar de falta de visão quem teve a ideia de dar ao grupo o novo nome”, escreveu o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, poucas horas antes, em uma referência a uma “anedota” que corre, há tempos, no mercado, de que a ação da companhia chegaria a R$ 21,54 numa alusão ao nome Azzas 2154.

Para se ter uma dimensão mais ampla dessa derrocada, quando comparada ao início de agosto de 2024, quando os papéis começaram a ser negociados na B3 com o ticker da Azzas 2154, a queda acumulada é de 57,3%. De lá para cá, o valor de mercado caiu de R$ 10,3 bilhões para os atuais R$ 4,4 bilhões.

Por trás do tombo das ações nessa sexta-feira está uma reportagem publicada na manhã de hoje pelo portal Pipeline, revelando que Birman e Jatahy estão “negociando o divórcio” menos de oito meses depois de concluírem a fusão e de rebatizarem a empresa como Azzas 2154.

Segundo a publicação, a dupla já contratou assessores para encontrar alternativas para essa separação, em um sinal claro nessa direção. Birman estaria sendo assessorado pelo Morgan Stanley e pelo Spinelli Advogados. E Jatahy, pela G5 e por Barbosa Mussnich.

A perspectiva, porém, é de que um desfecho não aconteça rapidamente como eles gostariam. A grande questão é como se daria essa cisão, motivada, principalmente, pela incompatibilidade de gênios entre os dois empresários.

Conforme apurou o Pipeline, em um exemplo do desgaste dessa relação, Jatahy, que lidera a divisão de moda feminina do grupo, já estaria se reportando diretamente ao Conselho de Administração, e não mais a Birman, que atua como o CEO da empresa por trás de grifes como Arezzo, Farm e Hering.

Em meio a essa citada falta de entrosamento, um dos caminhos em discussão seria Birman comprar a parte de Jatahy, que deixaria a operação. Há, porém, algumas barreiras nessa direção: como esse acordo seria financiado e, na outra ponta, o preço que o fundador do Soma estaria disposto a aceitar.

Procurada pelo NeoFeed, a Azzas 2154 disse por meio de sua assessoria de imprensa que não comenta rumores de mercado e que segue focada na execução das suas diretrizes estratégicas. O fato é que, a despeito desse burburinho, o tombo de hoje nas ações foi o segundo em um espaço de três dias.

Na quarta-feira, a Azzas divulgou seu balanço do quarto trimestre e do ano de 2024. E o resultado só ampliou a desconfiança sobre a operação. O grupo apurou uma alta de 15,1% na receita bruta trimestral, para R$ 4,2 bilhões, e de 10,8% na anual, para R$ 14,2 bilhões.

Entre outros dados, o que desapontou os investidores, no entanto, foram indicadores como um recuo de 0,6 ponto percentual da margem bruta do ano, para 55,5%. E uma queda de 16,6% na margem Ebitda, para 15,3%.

Como resultado, as ações do grupo fecharam o pregão da quarta-feira com queda de 13,3%, cotadas a R$ 22,89. No ano, com o desempenho de hoje, elas acumulam uma desvalorização de 27,3%, dando à empresa um valor de mercado de R$ 4,4 bilhões.

E a perspectiva à frente é ainda mais desfavorável. Ao NeoFeed, um gestor que já foi comprado na ação da Arezzo diz que a questão cultural era um risco mapeado pelo mercado na época em que foi anunciada a fusão. “Mas ficar desse jeito em oito meses? Nem o gestor mais pessimista acreditava que ia ser tão rápido”, afirma.

De acordo com ele, em tese, a ação está barata agora. Mas, em sua avaliação, é difícil investir por conta da falta de visibilidade sobre o que pode acontecer. “Vão fazer uma cisão? A Hering fica com quem? Cisão é muito difícil”, diz.

Um outro gestor, que estava vendido no papel e zerou sua posição, acredita que a cisão do negócio é impossível. “Se coloca no lugar do Birman: por que o board vai aprovar o spin-off da área que está dando resultado? Não faz sentido”.

Outro ponto levantado por ele é o pedido de prêmio sobre o preço de tela para a saída de Jatahy: “A ação tem um lock up longo. Por que antecipar esse prazo com um prêmio de saída? Não tem lógica. É mais fácil sair sem nada”. Ele acrescenta:

“E digo mais: o Birman vai colocar mais pressão e isolar o Jatahy, concentrando todas as microdecisões da área de vestuário feminino. O Roberto não quer ter chefe, então vai até o limite que ele aguentar”.

Um terceiro gestor complementa os questionamentos dentro desse caldeirão lembrando que foi comentado no início da fusão sinergias da ordem de R$ 4,5 bilhões: “O problema para o investidor é a falta de sinergias que foi prometida e não vai ter”, afirma.

Com a colaboração de Ralphe Manzoni Jr., Márcio Kroehn e Guilherme Guilherme

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Neofeed

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