André Bonomini: Em três momentos, Blumenau como cenário para o cinema

A capital da cerveja da pé para a sétima arte? Não estou falando das salas de cinema das três franquias que habitam na cidade como sucessoras (ou tentam) do que um dia foi o glamour de Busch, Blumenau, Atlas e Mogk. A pergunta vem ao encontro do cenário natural que qualquer bom filme poderia aproveitar para ilustrar uma história inesquecível ou inusitada, independente do tipo de película a ser criada.

Como “distribuidora de cenários únicos”, todos concordam que somos brindados muito bem com paisagens dignas de ser, de fato, “coisa de cinema”. Natureza, arquitetura, o corre-corre único permeado pelas nuances do passado e de elementos teutos típicos mesclados com a juventude de novos tempos. Realmente, cenografia seria algo único em qualquer história pensada por um Walter Salles da vida.

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Mas acredite, se você coça a cabeça pensando que não dá pé filme em Blumenau, ao menos três vezes conhecidas já fomos cenário para histórias que, se não valeram nem o Kikito em Gramado (sem desmerecer a grande honraria do nosso cinema), ao menos registraram a cidade em outros momentos além de deixar marcadas passagens de bastidores dignas de recordação e envolvendo, inclusive, nomes bem falados da cinematografia tupiniquim.

E já que o momento é celebrar o cinema brasileiro pela vinda do Oscar, vamos nos envolver na cabeça entre filme e cerveja, numa Blumenau como pano de algumas histórias do passado da sétima arte nacional. Vejamos:

  • Férias no Sul (1967)

O primeiro deles é o mais conhecido dos entusiastas da história da cidade. Rodado em 1967 e dirigido por Reynaldo Paes de Barros, “Férias no Sul” é um conto romântico-trágico que apresentava o ainda jovem David Cardoso vivendo o estudante paulista Celso, que veio ao sul a convite de um amigo para passar as férias. Aqui, ele conhece duas mulheres: A blumenauense Helga (interpretada por Dagmar Heidrich, atriz de Blumenau) e a paulistana Isa (vivida pela já experiente Elisabeth Hartmann).

A produção teve, em grande parte do elenco, artistas das cidades onde foi rodado, incluindo além da Blumenau, as ainda diminutas Balneário Camboriú, Caxias do Sul (RS) e Gramado (RS). Também virou uma espécie de “capsula do tempo” de uma cidade ainda provinciana nos inocentes anos 1960, sobretudo por focalizar ainda uma BC tão distante dos arranha-céus de hoje.

David Cardoso e Elisabeth Hartmann (Reprodução)

No entanto, por retratar de uma forma tão aberta e, por que não, machista a juventude e o amor dentro de uma cidade ainda fortemente conservadora, não demorou muito para o filme cair na boca da polêmica tão logo foi exibido por aqui, sobretudo pelo final trágico que traz. Também não faltaram contos de bastidores, alguns que ajudaram a película a ficar “esquecível” por muitos.

Ele nunca chegou a ser exibido em canais especializados ou restaurado. Algumas cópias estão nos arquivos da TV Galega e da FURB, além de estar disponível completo no YouTube.


  • Duas Estranhas Mulheres (1981)

A mais obscura daquelas de utilizou-se de Blumenau como cenário, talvez até por tratar-se de uma pornochanchada, quase um filme erótico por excelência num tempo em que a “boca do lixo” tinha um espaço até considerável no cinema naqueles tempos. Dirigida por Jair Correia, o filme mescla suspense e toques de erotismo, marcada pela referência a duas fortes figuras femininas: Eva, a primeira de todas as mulheres; e Diana, deusa romana da caça.

A sequencia em questão é a de Eva, onde o inocente oriental China (John Doo), em um sonho maluco, encontra pela estrada a perdida Eva (Fátima Celebrini), que pede carona na beira de estrada. As sequencias, entremeadas pelos devaneios de China com a inesperada companhia de viagem em cenas quentes, trazem como pano de fundo a passagem por Pomerode e Blumenau, mais precisamente na Vila Itoupava.

John Doo e Fátima Celebrini (Foto: Reprodução / Canal Brasil)

As sequencias são curtas, contando com takes próximos da Haco, na Rua Henrique Konrad, além de um show inesperado da Banda Verde Vale em um restaurante pomerodense. Por ser um filme da “Boca do Lixo”, pouco se soube sobre ele e menos ainda sobre a ligação dele com a passagem pelo Vale. O elo mais provável seria o ator e diretor Waldir Siebert, então produtor de arte e efeitos especiais do filme, que nasceu em Blumenau e atualmente, vive em Atibaia (SP).

Até pouco tempo, “Duas Estranhas Mulheres” estava disponível no YouTube completo, porém pelo conteúdo, não encontra-se mais na plataforma, apenas em alguns sites mais escondidos. Mas o aviso: é proibido a menores de 18 anos.

Foto: Reprodução / Canal Brasil
Foto: Reprodução / Canal Brasil
Foto: Reprodução / Canal Brasil

  • Os Trapalhões no Reino da Fantasia (1985)

Outra lembrança recorrente do cinema em Blumenau pelos entusiastas da história, mas esta livre para todos os públicos e responsável por disparar gatilhos de recordação de um quarteto inesquecível do humor brasileiro. Em 1985, falar d’Os Trapalhões era fascínio para crianças e risada certa pra todo mundo nos domingos a noite ou, principalmente, nas telonas do país, uma vez que algumas das bilheterias mais valiosas daqueles tempos tinham a face de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

Ainda numa crescente na sétima arte e vindo do recente retorno do quarteto após os problemas em 1983, a trupe aposta num conto mesclado live-action e animação, com desenhos de Maurício de Sousa. Era também o primeiro filme onde Xuxa Meneghel aparece junto dos quatro, interpretando uma freira responsável por um orfanato em dificuldades financeiras.

Xuxa de freira junto d’Os Trapalhões em um momento de descontração das gravações d’”Os Trapalhões no Reio da Fantasia”, em 1985. Vinda da rainha dos baixinhos e da trupe de humoristas foi obra de Beto (Foto: Império Xuxa)

A proximidade do quarteto com Beto Carrero talvez explique bem o uso cenográfico do Vale no filme. Grande parte da trama se passa no antigo Parque da Santur, em Balneário Camboriú, onde Beto tinha o palco dos shows fantásticos que fazia e que levariam a criação do parque temático em Penha, anos depois. No entanto, uma das cenas mais lembradas, a da perseguição a diligencia, passa-se em Blumenau, cortando pelas vias do Centro, como a XV e a Beira-Rio.

A repercussão do filme, no final, foi boa para o setor turístico tanto de Blumenau quanto de BC e do Parque da Santur. No entanto, o resultado final do filme não foi bem recebido pela crítica pela repetição de fórmulas que não davam mais certo. Tanto a película completa como um interessante material de bastidores exibido no Video Show daquela época estão disponíveis no YouTube.

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