Na versão contemporânea dos assaltos a trens do Velho Oeste, os ladrões querem tênis Nike

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Fundada em 1849, a BNSF Railway é a maior ferrovia de carga dos Estados Unidos. Hoje uma empresa da holding Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, a estrada de ferro foi imprescindível para o desenvolvimento do centro-oeste americano. Não à toa, se tornou alvo de ladrões, como o lendário Jesse James (1847-1882).

Passados quase 150 anos, agora, a BNSF Railway, com quase 54 mil quilômetros de trilhos, volta à mira dos criminosos. Na versão contemporânea dos antigos assaltos aos trens do Velho Oeste, os gatunos não estão atrás de carvão, dinheiro ou ouro. Eles querem, sim, tênis Nike — de preferência, modelos ainda inéditos no mercado. Apenas em 2024, os sapatos surrupiados, sobretudo, nos trechos mais remotos da Califórnia e do Arizona, somam US$ 2 milhões.

O último ataque aconteceu em 13 de janeiro deste ano, nas proximidades de Perrin, no Arizona. Os criminosos cortaram a mangueira do freio de um trem da BSNF. Quando a composição fez a parada de emergência, eles levaram 1.985 pares de Nike, avaliados em US$ 440 mil, conforme denúncia registrada no Tribunal Distrital dos Estados Unidos, em Phoenix, informa reportagem do jornal Los Angeles Times.

Entre a carga roubada, estavam alguns modelos Air Jordan 4 “Brick by Brick”. Fruto de uma colaboração entre a gigante americana e o atleta Nigel Sylvester, um dos grandes nomes do BMX mundial, o tênis está previsto chegar ao mercado apenas em meados de março, a US$ 225, o par.

Graças a rastreadores instalados em algumas das caixas de sapato, a polícia prendeu 11 suspeitos do crime.

Outro modelo roubado, antes de seu lançamento oficial, foi o Air Jordan 11 “Legend Blue”. Em 20 de novembro de 2024, 180 exemplares, avaliados em US$ 41,4 mil, foram apreendidos no condado de Mojave, também no Arizona, dentro de uma van, nas proximidades do local onde o trem foi abordado.

Os assaltantes são avisados da carga por funcionários dos armazéns ou das empresas de transporte, indicam as investigações. Em geral, eles entram nos vagões no momento da partida e ficam escondidos até que o trem chegue a um lugar ermo, quando então forçam a parada das máquinas, como aconteceu em janeiro.

Mas, os ataques também acontecem nos trechos em que os comboios são obrigados a reduzir a velocidade, durante a troca de trilhos, por exemplo.

Como as composições são longas e as investidas acontecem em regiões afastadas, o roubo só é descoberto quando o trem chega a seu destino.

Cartão de visitas

O aumento no número de assaltos é reflexo de uma revolução no mundo da moda. Em meados da década de 2010, os tênis, antes restritos à prática esportiva e às ocasiões mais informais do dia a dia, ganharam as passarelas de luxo. Dali foi um pulo para que se transformassem em objeto de desejo, sobretudo dos millenials endinheirados.

Para muitos deles, os tênis deixaram de ser apenas um calçado confortável. Peças assinadas, de edição limitada, passaram a ser vistas como uma espécie de cartão de visitas — símbolo cultural pop e código de acesso a um estilo de vida casual, mas sofisticado e exclusivo.

Nesse movimento, os calçados viram uma obsessão para os sneakerheads como são chamados os “loucos por tênis”. Mas não só. Ao girar uma indústria milionária, fazem brilhar também os olhos dos investidores. Sim, tênis é agora ativo de primeira linha.

E, quanto mais rara for a peça, melhor. Se ela foi criada por um designer ou atleta famoso, melhor ainda. Mas, se o sapato foi usado por um astro do esporte… bem aí, o céu é o limite.

O Air Jordan 4 “Brick by Brick” só será lançado em meados de março (Foto: Instagram @nigelsylvester)

Nigel Sylvester, astro do BMX, assina a coleção de tênis Nike, roubada em janeiro passado (Foto: Instagram @nigelsylvester)

Em novembro de 2024, um lote com 180 Air Jordan 11 “Legend Blue” foi roubado no Arizona. O modelo só seria lançado nas festas de final de ano (Foto: Reprodução internet)

Fundada em 1849, a BNSF Railway é a maior ferrovia de carga dos Estados Unidos (Foto: bnsf.com)

Um par do Nike Force One, criado por Virgil Abloh foi leiloado em 2022, pouco depois da morte do designer da Louis Vuitton por quase US$ 353 mil (Foto: sothebys.com)

Os seis tênis (sem seus pares) usados por Michael Jordan em cada final da NBA, foram vendidos por US$ 8 milhões (Foto: sothebys.com)

O que são US$ 8 milhões pelo privilégio de possuir os seis tênis (sem seus pares), com os quais Michael Jordan conquistou os seis títulos da NBA? Pois bem, foi esse o valor alcançado pelo conjunto de calçados, batizado Dinasty Collection, em leilão da Sotheby’s, no início de 2024.

No universo dos sneakerheads é assim mesmo. Tudo se conta em cifras milionárias. Em 2022, poucos meses depois da morte de Virgil Abloh, diretor criativo de menswear da Louis Vuitton, a maison leiloou 200 pares do Nike Force One, criado pelo designer em parceria com a gigante americana, para a grife do grupo de luxo LVMH. Um deles alcançou US$ 352,8 mil — o dobro das expectativas iniciais.

O mercado global de revenda de tênis foi avaliado em US$ 11,5 bilhões, em 2023 — o equivalente a 15,3% do setor de tênis em geral, informam os analistas da consultoria RunRepeat. Até 2032, porém deve avançar a uma taxa anual composta de 16,4%, quando está previsto atingir US$ 53,2 bilhões.

“Os tênis consolidaram seu lugar na cultura popular, com celebridades e influenciadores frequentemente definindo tendências e impulsionando a demanda por modelos ou marcas específicas”, escrevem eles. “As marcas dominaram a arte do hype ao lançar tênis em quantidades limitadas, criando um senso de urgência e exclusividade que alimenta o mercado de revenda.”

A revenda não pressupõe apenas calçados usados, não. Fundada em 2017, em Londres, a Presented By é uma boutique de consignação de tênis raros e streetwear de luxo. Com lojas em Paris, Abu Dhabi, Doha, Riad e Cidade do México, a empresa acaba de inaugurar uma nova unidade no Aeroporto Internacional Zayed, na capital dos Emirados Árabes Unidos.

Lá, na filial de arquitetura futurista e 210 metros quadrados, é possível comprar um exemplar da coleção Dior X Air Jordan 1 High pela “bagatela” de US$ 50 mil.

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Neofeed

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