PIB de 2024 está “salvo”. Expectativa do mercado passa a ser as ações e reações do governo

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A economia brasileira está desaquecendo. A informação não surpreende, mas exige confirmação estatística a ser conhecida no “puxadinho” do calendário pós-carnaval. O PIB do quarto trimestre e de 2024 não é trivial. Destaque na agenda doméstica atropelada pelo carnaval deverá sinalizar que o governo vai ter de se esforçar mais para puxar a atividade neste ano e no próximo se quiser fazer bonito para os eleitores em 2026.

O PIB será divulgado pelo IBGE na sexta-feira, 7 de março, e vai disputar atenção com dados do mercado de trabalho americano que será precedido – no início da semana de folia e mercados trancados no Brasil – por discursos de Fed Boys que preparam terreno para a reunião do BC dos EUA sobre juros em 19 de março, importante pela decisão e atualização de projeções econômicas.

Na Quarta de Cinzas, 5 de março, de reabertura da B3 às 13h, o BC dos EUA divulgará o Livro Bege. Documento que mapeia informações que ajudam a balizar a decisão sobre a sua taxa básica. Prevalece, por ora, a avaliação de analistas de que a instituição vai se manter cautelosa, como acenou, há três semanas, Jerome Powell que diz não ter pressa para aliviar a política monetária porque a economia vai bem e a inflação resiste.

A arquitetura traçada para a política monetária dos EUA importa, a qualquer tempo, porque afeta fluxos de capital internacional e o apetite de investidores financeiros (ou não) que podem interferir especialmente em cenários de economias emergentes, inclusive, via taxa de câmbio. O Brasil integra o time.

Nesse ambiente de juro elevado nos EUA possivelmente por mais tempo e tensão adicionada pela política tarifária do governo Trump – a contratar um agravamento da inflação global – sairá a notícia de que o PIB do Brasil foi muito bem em 2024, mas desceu um degrau no quarto trimestre e segue deslizando, embora essa trajetória possa ser invertida por um desempenho vigoroso da agropecuária no primeiro trimestre. Pontualmente, talvez.

Má notícia para o governo Lula que apanha nas pesquisas de opinião e, sugere o senso comum, deverá arregaçar as mangas e lutar para reverter a queda de popularidade. Pé-de-Meia, gratuidade total no Farmácia Popular, liberação extra de FGTS e isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil – proposta ainda a chegar no Congresso – são parte do inventário.

A “escadinha” do PIB está traçada. No primeiro trimestre do ano passado cresceu 1,1%; no segundo, 1,4%; no terceiro, 0,9%; e, para o último quarto, as previsões oscilam entre 0,4% e 0,6%. Em 2024, o PIB deverá crescer de 3,4% a 3,6%, preveem economistas de mercado.

Alinhamento raro entre mercado e Fazenda

Assim, o PIB de 2024 deve superar os 3,2% de 2023, após revisão de 2,9% anunciada em dezembro pelo IBGE. Confirmadas as previsões, será o melhor resultado em anos. Excluindo 2021 – quando avançou 4,8% recuperando-se do tombo de 3,3% em 2020 e auge da pandemia – em 2024 o PIB ficará atrás apenas de 4% observados em 2011, primeiro ano do governo Dilma Rousseff.

Embora relevante se comparada às taxas atuais, o PIB de Dilma 1 ficou miúdo ante 7,5% alcançados em 2010 de encerramento do Lula 2 e que ele gostaria de reprisar. E é exatamente sua explícita disposição que põe o mercado de sobreaviso pelo risco de relaxamento de restrições fiscais.

A previsão de bancos e consultorias para o PIB de 2024 – nem tanto a de 2025 – está alinhada à do Ministério da Fazenda que estima crescimento de 3,5% e 2,3% em 2025, devido à “desaceleração de atividades cíclicas pela alta no juro e impacto no crédito e mercado de trabalho”, informa o recém-divulgado relatório “2024 em Retrospectiva e Cenário para 2025”.

Os quatro maiores bancos do país apontam argumentos semelhantes para o freio no PIB deste ano. O Banco do Brasil e o Itaú Unibanco esperam crescimento de 2,2%; o Bradesco projeta 1,9% e o Santander 1,8%.

O detalhamento de um PIB mais fraco no quarto trimestre poderá até justificar ajustes nessas projeções. Entretanto, atualizações consistentes para a economia terão na taxa de juro a principal variável a reorientar os cálculos. E o juro dependerá (e muito) do câmbio e seu efeito sobre a inflação.

Caso a desaceleração da atividade se acentue e incentive o BC a moderar o aperto, as condições financeiras poderão afrouxar e conter um retrocesso maior. O Indicador de Condições Financeiras do Banco Pine, registrado dias atrás neste espaço, melhorou após um agravamento em janeiro.

Mas as condições financeiras dependem também de variáveis externas e da evolução do dólar que vem exibindo certo equilíbrio em torno de R$ 5,70, mas não está isento de pressões altistas que podem ser deflagradas por eventos inesperados, declarações de autoridades brasileiras – notadamente Lula – e/ou decisões do governo Trump amplificadas por incertezas.

Na segunda-feira, 24 de fevereiro, Trump disse que as tarifas (25%) sobre Canadá e México, anunciadas no início do mês e suspensas por 30 dias, “seguem o cronograma” – prazo que terminaria em 4 de março. No dia seguinte adiou a data de aplicação para 2 de abril.

Na quinta, 27, voltou atrás e anunciou que a cobrança será mesmo a partir de 4 de março – quando entra em vigor mais 10% de tarifa sobre a China que se sobrepõe aos 10% já anunciados. Na quarta-feira, 26, Trump ameaçou as importações da União Europeia também com tarifa de 25%. Em abril deve ter início a vigência das tarifas recíprocas a países que cobram imposto de importação de produtos norte-americanos.

Em relatório, o Itaú Unibanco conclui que o impacto do “tarifaço” de Trump é negativo para o crescimento global e inflacionário, mas mais inflacionário para os EUA – cenário que prescreve um Fed “parado” em meio a atividade resiliente, inflação resistente e política migratória com potencial inflacionário.

Nesse ambiente de elevada incerteza, o Itaú não prevê corte de juro nos EUA em 2025 e vê a Selic escalando a 15,75% no final do primeiro semestre sem desprezar, porém, o risco de interrupção do ciclo de alta antes disso – a depender da dinâmica da atividade, da taxa de câmbio e das expectativas.

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