China reage às tarifas de Trump com “canelada” no Google, à espera de negociação

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O governo chinês reagiu na mesma moeda à imposição de tarifas de importação de 10% dos Estados Unidos. Na terça-feira, 4 de fevereiro, quatro dias após a taxação assinada pelo presidente Donald Trump, os chineses retaliaram, além de terem aplicado um “troco” adicional: abriram uma investigação antitruste contra o Google.

No anúncio, o governo da China impôs tarifas adicionais entre 10% e 15% sobre gás natural liquefeito, carvão, petróleo bruto e equipamentos agrícolas dos EUA, que entrarão em vigor em 10 de fevereiro.

A China também vai impor tarifas sobre importações de carros dos EUA e controles adicionais de exportação de metais raros (de tungstênio e mais de duas dúzias de outros produtos e tecnologias ligados a esses minerais, com efeito imediato).

O pacote de retaliação era esperado, mas causou surpresa por incluir um tema alheio à disputa comercial entre os dois países – a abertura de uma investigação sobre o Google por parte do órgão regulador antitruste chinês, por suspeitas de violações de leis antimonopólio.

Embora o mecanismo de busca esteja bloqueado na China — junto com a maioria dos negócios da empresa controladora Alphabet — a gigante tech americana lucra com empresas chinesas que anunciam no exterior.

A investigação antitruste sobre o Google foi recebida como outra moeda de troca, semelhante à investigação da China sobre a fabricante de chips americana Nvidia.

A resposta chinesa às tarifas de Trump, porém, foi bem mais suave do que o padrão adotado pela China desde o início da guerra comercial com os EUA, durante o primeiro mandato de Trump.

No total, as novas tarifas atingiram cerca de US$ 14 bilhões em produtos americanos, de acordo com levantamento do Citi, ou menos de 10% do total das importações dos EUA em 2023, o último ano para o qual havia dados completos.

Por essa razão, além do prazo de seis dias para as tarifas entrarem em vigor, analistas ocidentais veem a resposta chinesa como um “movimento simbólico” – ou seja, apenas um ponto de partida para negociação, pois o presidente americano deve conversar esta semana com o líder chinês Xi Jinping.

“A retaliação chinesa não foi uma resposta de escalada”, disse Chris Beddor, vice-diretor de pesquisa da China na Gavekal, empresa de pesquisa e de serviços financeiros com sede em Hong Kong. “Eles estão claramente visando negociações e um acordo.”

Trump irritou aliados vizinhos e investidores com o anúncio na sexta-feira à noite de impostos de importação para  Canadá e México (25%) e China (10%), que ele acusou de não conseguirem conter a imigração e o fluxo do opioide mortal fentanil para os EUA. Juntos, os três países respondem por 41,75% das importações dos EUA.

Estratégia do porrete

O temor de que Trump cumpriria sua promessa de sobretaxar importações de países com os quais os EUA têm déficit comercial para atrair de volta indústrias para o país durou muito pouco.

Já na segunda-feira, 3, o presidente americano suspendeu por 30 dias a imposição de tarifas contra o México e o Canadá, após negociações com a presidente mexicana Claudia Sheinbaum e o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau.

Sheinbaum se comprometeu a enviar 10 mil soldados para a fronteira com os EUA, promessa semelhante do primeiro-ministro canadense.

O recuo de Trump reforçou a percepção que sua estratégia é primeiro fazer ameaças por meio de imposição de tarifas duríssimas para obrigar os países ameaçados a sentar para negociar – ou seja, a adoção de tarifas teria efeito, no máximo, temporário, até os EUA obterem concessões.

Na segunda-feira, 3, o mercado financeiro americano deu mostras de apostar nessa estratégia de Trump – apesar de, após a posse, acreditar que Trump entregaria as coisas boas que havia prometido, como desregulamentação e impostos mais baixos, antes de passar para as tarifas.

O S&P 500 fechou a sessão de segunda-feira em queda de apenas 0,8%, apesar de todo o ruído em torno das tarifas contra os principais parceiros comerciais dos EUA.

Ao longo do dia, o S&P caiu quase 2% no seu pior momento – antes de a presidente mexicana anunciar acordo com Trump, suspendendo a imposição e tarifas -, índice típico de um dia ruim, mas dificilmente indicativo do colapso da ordem comercial global.

Agora, o cenário mais viável é o de repetição do que ocorreu o primeiro mandato de Trump, quando as tarifas de importação foram constantemente elevadas e depois cortadas, o que reforça a ideia de que elas não durarão por muito tempo e servirão de chamariz para Trump forçar países, aliados ou não, fazer concessões ao presidente americano.

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