Empresário preso suspeito de ser operador financeiro do PCC teve nome e imóvel ligados a outras operações policiais envolvendo a facção


Ademir Pereira de Andrade responde por lavagem de dinheiro para obtenção de imóveis para integrantes do PCC e também faz parte do inquérito que investiga a morte do delator do PCC, Vinícius Gritzbach, assassinado a tiros no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Empresário preso em operação da PF já foi condenado em Sorocaba (SP) por sonegação
Reprodução
O empresário Ademir Pereira de Andrade, que foi preso pelo Gaeco e pela Polícia Federal (PF), em dezembro de 2024, suspeito de ser operador financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), e de ter ligações com uma pessoa que teria participado da morte do delator Vinicius Griztbach, executado no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), teve seu nome e imóvel ligados a outras operações policiais envolvendo o PCC.
📱 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp
Um dos casos foi a Operação Além-mar, realizada em 2020 pela Polícia Federal. Na ocasião, um dos imóveis do empresário, em Igaratá (SP), foi alvo de buscas. No local, os policiais recolheram provas contra Caio Bernasconi Braga, conhecido como Fantasma da Fronteira, que é suspeito de tráfico internacional de drogas. Entre os objetos apreendidos, estão motos aquáticas e uma lancha.
Os policiais foram informados, na ocasião, que a propriedade pertencia à MVE Administração de Bens e Participações Ltda. A empresa em questão está em nome de Ademir e também tem relação com um imóvel localizado em Sorocaba (SP).
O empresário também foi ouvido em um inquérito que apura crimes que teriam sido cometidos por Farani Júnior, ex-policial militar acusado de ser “matador do PCC”. As informações constam na decisão da Justiça que autorizou a remoção de Ademir, que estava no CDP de Belém, em São Paulo (SP).
Ademir já responde por lavagem de dinheiro por ter adquirido imóveis para chefes do PCC e foi preso na Operação Tacitus, que investiga policiais suspeitos de trabalharem para a facção.
Assassinato de delator
Antônio Vinicius Lopes Gritzbach foi morto no Aeroporto Internacional de Guarulhos
Montagem/g1 – Reprodução/Redes sociais
Uma outra força-tarefa, formada pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), investiga o assassinato do delator Vinicius Gritzbach. Três PMs foram presos suspeitos de participarem da execução, dois como atiradores e um como motorista. Outros foram presos por suspeita de fazerem a escolta de Gritzbach.
No relatório da decisão que resultou na prisão de Ademir, o desembargador do TJSP cita que, de acordo com o Ministério Público, o empresário teria incompatibilidade patrimonial e atuaria como agente financeiro do PCC. Em uma das oportunidades nas quais foi ouvido, Ademir teria falado sobre Gritzbach.
“O Vinicius teve uma graduação (sic) muito alta de seu patrimônio, pois tinha um imóvel e dois carros financiados e, do dia para a noite, apareceu com o helicóptero, e teve ocasião que tinha três Ferraris na minha garagem, duas vermelhas e uma preta, então teve uma ascensão muito grande, mas eu nunca o questionei sobre isso, era nítido, era um comentário que existia.”
Ademir teria dito em seu interrogatório reiterada vezes que não mantém qualquer relação ilícita e que sua atuação é como corretor imobiliário, engenheiro e empresário. Ele indicou não ter responsabilidade sobre as atividades desenvolvidas com as pessoas com as quais negocia.
Vídeos mostram por diferentes ângulos execução de empresário no Aeroporto de Guarulhos
O desembargador cita o posicionamento da Justiça que teria negado o pedido da defesa do investigado. “Ao se deparar com as situações ora identificadas, como transações imobiliárias envolvendo traficantes e outros criminosos, ao que parece corriqueiras na vida do investigado, como profissional do ramo imobiliário, deveria ter ciência de que é obrigado a comunicá-las aos órgãos competentes.”
Ainda de acordo com a decisão, Ademir assumiu ser agiota de criminosos e teria dito que iria emprestar dinheiro para o ex-PM Farani Júnior, suspeito de ser “matador do PCC”.
A Polícia Federal pediu a autorização da Justiça para que Ademir fosse até a superintendência do órgão em São Paulo, com forte escolta, para que liberasse o acesso do celular apreendido na operação. A data não foi informada.
Quem é Ademir
Empresário preso em operação da PF tem mais de 90 imóveis, alguns no interior de SP
Reprodução
Ademir foi preso durante a Operação Tacitus, realizada pela Polícia Federal (PF) e o Gaeco de São Paulo. O empresário mantém relação com Sorocaba.
O relatório da Polícia Federal, ao qual o g1 e a TV TEM tiveram acesso, traz informações sobre a atuação de Ademir na organização criminosa e sua associação ao PCC. Os dados sobre o empresário vieram de relatórios de inteligência financeira e com informações da delação do empresário Vinicius Gritzbach, executado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, no dia 8 de novembro.
No processo, os advogados de defesa pediram que a prisão fosse revogada, diante do que classificaram como constrangimento ilegal para o empresário. Segundo a defesa, os fatos narrados são antigos e não justificariam uma prisão, como ocorreu. Eles pediam, ainda, caso não fosse dada a liberdade, que o suspeito fosse colocado em prisão domiciliar.
“O acordo de colaboração premiada de Gritzbach chamou a atenção para as atividades ilícitas de Ademir, fato que pode ter a ver ou não com o homicídio do delator”, dizia o relatório.
Uma das constatações contidas no documento é que uma das pessoas que teria participado do crime, Kaue do Amaral Coelho, que agiu como olheiro para apontar o horário e a chegada de Gritzbach, foi cliente do mesmo escritório de advocacia de Ademir.
“Para além de uma possível coincidência, a identidade dos advogados chama a atenção, dada a discrepância da capacidade econômica entre Ademir e Kaue para pagar tais serviços de alto custo.”
Ainda de acordo com a PF, a relação de Ademir com o crime organizado se mostra estável e permanente, sendo “mascarada” pelo fato de ele atuar como empresário com a intenção de operacionalizar o fluxo de bens, principalmente de imóveis.
O empresário, inclusive, já foi denunciado duas vezes por lavagem de dinheiro, visando à aquisição de imóveis de alto custo, com pagamento em dinheiro vivo e depósitos bancários fracionados.
Somente entre 2020 e 2021, foram registrados, em nome de Ademir, mais de 47 imóveis, em valores que superam os R$ 15 milhões. No entanto, o volume de imóveis declarados é muito maior quando envolve outros anos, chegando a 96, sendo que alguns deles estão, inclusive, em Sorocaba.
Ademir também foi condenado à prisão por sonegar mais de R$ 2,9 milhões na região de Sorocaba. Segundo apurado pelo g1 e pela TV TEM, as empresas dele estavam registradas no mesmo endereço em Salto de Pirapora (SP). Ele foi condenado a sete anos e cinco meses de prisão em regime semiaberto por usar “laranjas” para abrir empresas que eram dele.
Porém, os crimes de falsificação prescreveram e restou apenas a condenação de sonegação fiscal, com três anos e um mês de prisão em regime aberto. A investigação do caso foi feita pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF), em 2004 e 2005.
Ligação com ex-vereador de Sorocaba
O ex-vereador de Sorocaba Cícero João (Agir) tem ligações e recebeu doação de Ademir para a campanha eleitoral.
No processo, ao qual o g1 e a TV TEM tiveram acesso, consta também outra ligação entre Cícero e o empresário. Além da doação de campanha, um advogado que foi chefe de gabinete do parlamentar atuou também como advogado do empresário Ademir.
O advogado, que foi chefe de gabinete de Cícero João, pediu vista ao processo na Justiça Federal por diversas vezes, como advogado constituído pelo empresário. O advogado atuou com Cícero de outubro de 2023 a julho de 2024. Após a exoneração, Cícero nomeou a ex-esposa do advogado, de julho a outubro de 2024.
Defesa
O g1 tentou diversas vezes, por e-mail e ligação telefônica, contato com a defesa de Ademir Pereira de Andrade, mas não obteve resposta.
O ex-vereador Cícero João (Agir) não respondeu ao último questionamento e afirmou, anteriormente, que, como político e empresário, tem contato com muitas pessoas e conheceu Ademir como sendo empresário do ramo da construção civil.
Na época, o ex-vereador também disse, em nota, que o chefe de gabinete trabalhou pouco tempo com ele e, por ser advogado, tem muitos clientes. Disse também que a ex-esposa dele ocupou o cargo pela capacidade técnica.
Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí
VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM
Adicionar aos favoritos o Link permanente.