Ativista transforma comunidade por meio de bons exemplos em prol do planeta


Thais Corral é fundadora do Sinal do Vale, biohub em Duque de Caxias que investe em preservação da biodiversidade, educação ambiental e práticas sustentáveis Divulgação

Em uma área de 200 hectares de Mata Atlântica no distrito de Santo Antônio, no município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, a luta pela preservação ambiental e o desenvolvimento comunitário sustentável é uma causa abraçada por muitos braços, mas encabeçada por um nome com notoriedade internacional no assunto. Thais Corral, 67 anos, mais de 40 deles dedicados ao engajamento em causas socioambientais, é fundadora do Sinal do Vale, um biohub que há 13 anos une diferentes pilares, como preservação da biodiversidade, educação ambiental e promoção da economia local por meio de práticas sustentáveis.
Natural de Macaé, a 180km da capital fluminense, Thais é copresidente do Conselho Consultivo para a Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas, e foi destaque em eventos de impacto global como a Rio-92 e o G20, em que atuou em defesa de políticas públicas que conciliassem desenvolvimento sustentável com justiça social. Como cofundadora da WEDO (Women, Environment, and Development Organization), ajudou a inserir as perspectivas e a presença das mulheres na defesa do planeta nas Nações Unidas. Também é conselheira do World Future Council, que identifica e promove as melhores políticas sociais e ambientais para as gerações futuras.
“Toda a minha trajetória profissional de ativismo foi nesse campo de ativar a transformação, ambiental e social”, aponta.
À frente do Sinal do Vale, que define como “mais do que um projeto, um estilo de vida”, desenvolve um trabalho com foco na recuperação de áreas degradadas e no manejo consciente dos recursos naturais, além da integração da população ao processo de conservação e gestão do meio ambiente.
“Sempre gostei muito da natureza, mas eu vivia na cidade, sem contato direto com os recursos e com a forma como eles chegam até a gente. Então, decidi fazer esse experimento de ser guardiã de um lugar e desenvolver nesse lugar práticas sustentáveis”, comenta Thais, que acredita em semear boas ações para germinar bons frutos. “Eu vi que era muito importante mostrar exemplos e desenvolver esses exemplos por um longo período. Mostrar às pessoas que é possível viver a mudança que elas querem ver no mundo, como diz a frase de Gandhi”.
O vale sediado na biorregião da Serra da Estrela, atrás da Baía de Guanabara, a 50 km do centro do Rio, tem todos os recursos da Mata Atlântica, mas também enfrenta os problemas atrelados ao desenvolvimento sustentável. Foi nesta combinação que Thais enxergou potencial para buscar soluções para a região.
As operações do Sinal do Vale desenvolvem-se em quatro eixos principais: formação de jovens lideranças, restauração, sistemas alimentares locais e turismo regenerativo. É possível participar de jornadas de aprendizagem, cursos, oficinas e passeios no campus. Ações educativas com crianças e adolescentes da região e eventos em parceria com escolas públicas e privadas também estão na agenda, além de um programa de voluntariado e estágio.
No campo do reflorestamento, o projeto já plantou mais de 50 mil árvores e administra um viveiro de 10 mil mudas nativas. “Temos muitos recursos naturais ainda que precisam ser otimizados, regenerados. É nisso que a gente trabalha. Se conseguirmos aqui restituir toda a cobertura florestal que a gente tinha no passado, vamos criar um microclima que nos tornará mais resilientes em água, em sombra, em alimento, em tudo”.
No Sinal do Vale, a proposta de alimentação regenerativa é integrada à filosofia de cultivo e consumo conscientes, com incentivo ao uso de técnicas agrícolas sustentáveis e apoio para a produção de alimentos orgânicos.
“Temos protótipos importantes nesse sentido, como o projeto da jaca, que é um fruto muito abundante nessa região. Criamos uma gastronomia da jaca, temos uma planta de processamento da jaca e temos difundido a jaca como uma solução baseada na natureza. Tanto para regeneração do solo quanto uma solução de alimentação”, ilustra Thais sobre o fruto alternativo à carne.
Uma trilha de 110 km que liga o campus à Cachoeira de Macacu, percorrendo a periferia do Rio, resgata e promove o turismo de base comunitária, que valoriza o patrimônio cultural e histórico da região.
Com essas e outras iniciativas, o projeto idealizado por Thais se consolida como um articulador e catalisador de mudanças. “Estamos verificando uma aceleração da crise planetária sem precedentes na história humana que conhecemos. Então, criar exemplos práticos, de uma plataforma colaborativa, com a participação de todas as pessoas e de todos os setores para desenvolver soluções para esses problemas tão graves é muito importante”, avalia.
Parcerias entre organizações não governamentais, instituições públicas, empresas e a própria comunidade têm sido fundamentais para o êxito do projeto. Segundo Thais, cerca de 30 pessoas estão envolvidas diretamente no Sinal do Vale, mas, quando considerados os projetos realizados na biorregião, esse número é muito maior.
“Muitas pessoas da comunidade trabalham aqui, e a gente tem projetos específicos com elas. Então a comunidade se beneficia com o nosso treinamento e com o nosso acompanhamento, porque a visão do Sinal do Vale é muito a de aprender fazendo na prática, não é de dar curso e deixar as pessoas sozinhas para resolverem o problema”, ressalta Thais.
“A gente está nesse desafio de continuar fazendo e esperar que muitas mais pessoas acordem para essa consciência e comecem a ativar essas possibilidades de mudanças também, porque tem que ser muitas dessas células, como o Sinal do Vale, ao longo de todo o Brasil, de todo o planeta, para poder reverter essa rota destrutiva em que nós estamos”, conclui.
Atitudes pequenas e grandes impactos
As possibilidades de mudança são muitas e podem estar em atitudes pequenas. Jogar o óleo de cozinha usado na pia ou em algum ralo da casa, por exemplo, pode parecer inofensivo. Mas não é. Essa gordura, quando entra na rede de esgoto, e em contato com a água fria, vira um bloco sólido capaz de entupir tubulações e comprometer o fluxo da rede. Isso pode causar o retorno do esgoto para o imóvel, mau cheiro, extravasamentos em vias públicas e ainda atrair ratos, baratas e outros animais. Se chegar nas redes pluviais, o resíduo ainda pode poluir rio, lagoas e mar.
Tubulação entupida por bloco sólido formado por gordura descartada incorretamente.
Foto: Águas do Rio/Divulgação
Com o objetivo de reduzir esses impactos indesejáveis, a Águas do Rio atua com o “De Olho no Óleo”, programa de sensibilização sobre o descarte correto do resíduo, que inclui pontos de coleta em diversas cidades (veja lista abaixo).
Nesses pontos de coleta, uma empresa de refino certificada fica responsável por encaminhar o resíduo para indústrias e cooperativas que têm o óleo como matéria-prima de seus produtos. Fazendo a coisa certa, deixamos o sistema de esgoto mais eficiente e ainda geramos um círculo virtuoso de geração de renda sustentável
Gincana para recolher óleo de cozinha usado mobiliza alunos das zonas Norte e Sul do Rio
Uma brincadeira que alia aprendizado e preservação ambiental mobilizou estudantes das zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro. A gincana do programa De Olho no Óleo, promovida pela Águas do Rio, arrecadou mais de 800 litros de óleo de cozinha usado, protegendo cerca de 20 milhões de litros de água de possíveis contaminações em rios e praias. A iniciativa reforça a importância da educação ambiental como ferramenta para transformar hábitos e preservar os recursos naturais.
A disputa, que começou em abril e neste final de 2024, mobilizou cerca de 450 estudantes das escolas municipais Rodrigo Otávio, na Ilha do Governador, e Ciep Nação Rubro-Negra, no Leblon. As turmas vencedoras de cada escola foram premiadas com medalhas e um passeio ao Museu do Amanhã, na Praça Mauá, Zona Portuária carioca.
Confira onde estão os ecopontos:
Rio de Janeiro
• Centro de Orientação e Reabilitação Beneficente de Inhaúma (Corbi) – Rua Guarapuava, 98
• Escola Municipal Rodrigo Otávio – Rua Antônio de Almeida, 11, Moneró – Ilha do Governador
• Loja da Águas do Rio em Copacabana – Rua Francisco Sá, 86
• ONG Rio Solidário – Travessa Eurícles de Matos, 17 – Laranjeiras
• Curso Yázigi – Rua Cosme Velho, 89
• Escola Municipal Anne Frank – Rua Pinheiro Machado, 190 – Laranjeiras
• Escola Municipal México – Rua Matriz, 67 – Botafogo
• Ciep Nação Rubro-Negra – Praça Nossa Senhora Auxiliadora, S/N – Leblon
• Escola Municipal Júlia Lopes Almeida – Rua Almirante Alexandrino, 3.466 – Santa Teresa
• Rede Cruzada – Rua Ana Neri, 2.400 – Riachuelo
Belford Roxo

• Avenida Benjamin Pinto Dias, 1.130 – Centro
Duque de Caxias
• Avenida Dr. Manoel Teles, 237 – Centro
Mesquita
• Rua Arthur de Oliveira Vecchi, 23 – Centro
Nova Iguaçu
• Rua Oscar Soares, 1.362 – Bairro Califórnia
Queimados
• Rua Dr. Eloi Teixeira, 165 – Loja 115 – Centro
São Gonçalo
• Lojas Águas do Rio – Funcionamento de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h
• Avenida Presidente Kennedy, 311 (2º piso) – Centro
• Estrada Raul Veiga, 351, Loja 21 – Alcântara
Itaboraí
• Rua São João, 42 – Centro
Tanguá
• Rua Vereador Manoel Macedo, 300, Loja 4 – Centro
Maricá
• Rua Barão de Inoã, 287 – Centro
Saquarema
• Rua 96, nº 585 – Jaconé

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