Espécie invasora é alvo de monitoramento

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Uma espécie invasora vem colocando em risco o equilíbrio ambiental e preocupando autoridades e pesquisadores no Litoral paraibano: o peixe-leão. Nativo do Indo-Pacífico, ele foi acidentalmente introduzido no Oceano Atlântico, onde suas primeiras aparições foram registradas em 2014, na costa do Rio de Janeiro (RJ). O animal, que é caracterizado por cores vibrantes e espinhos venenosos, alimenta-se de outros peixes menores e não tem predador nessa região.

Na Paraíba, segundo informações da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), de um total de 18 peixes-leão visualizados, cinco foram capturados desde o ano passado, quando as autoridades identificaram os primeiros espécimes no estado. A maioria foi encontrada em João Pessoa (com 65% dos registros), seguido de Pitimbu (17%). Os municípios de Conde, Cabedelo e Baía da Traição contabilizam, cada um, 6% das ocorrências do animal, até o momento.

Ameaça
O peixe-leão se alimenta de espécies menores e não tem predador na região, trazendo riscos para o equilíbrio da vida marinha local

De acordo com o superintendente da Sudema, Marcelo Cavalcanti, o órgão vem realizando ações de mapeamento para elaborar um diagnóstico local do problema, com o auxílio de uma equipe de mergulho contratada para o projeto. “Estamos dando continuidade a esse trabalho, iniciado em dezembro do ano passado, porque essa é uma espécie atípica para a região, que não tem predador e que se alimenta muito dos animais de menor tamanho. Então vai alterar significativamente o equilíbrio aqui”, destaca Marcelo. “Além de tudo, é uma espécie venenosa: se pisar no espinho, você contrai o veneno. Em princípio, não é letal, mas incomoda bastante. Então a gente precisa controlar essa invasão do peixe-leão no Litoral”, salienta.

A iniciativa em andamento também tem o objetivo de subsidiar estudos que ajudem a compreender o comportamento do animal e suas principais presas, entre outros aspectos, para melhor conter sua presença. “Todos os espécimes que estamos pegando estão sendo levados para a Universidade Federal da Paraíba [UFPB]. Estão sendo feitos estudos em todo o Brasil”, conta o representante da Sudema.

Ainda não se sabe, ao certo, como o peixe-leão chegou aos mares brasileiros; mas há teorias que apontam, por exemplo, para a possibilidade de espécimes do animal terem vindo presos no casco de alguma embarcação chinesa.

Capturas buscam evitar disseminação

O chefe da Divisão de Fauna da Sudema, Leandro Silvestre, chama atenção para outro fator importante da ameaça ambiental representada pelos peixes-leão: sua capacidade de reprodução, que pode fazê-los se disseminar rapidamente no Litoral paraibano. “Os animais locais não identificam essa espécie como uma possível presa, então ela vai se reproduzir muito rápido, em grande quantidade e sem ter predador”, explica Leandro.

“Os animais locais não identificam essa espécie como uma presa, então ela vai se reproduzir muito rápido”
– Leandro Silvestre

“Por enquanto, não observamos peixes-leão pequenos, que indiquem que está havendo reprodução. Por isso, essa ação de captura é necessária, para evitar que se chegue nesse ponto”, reforça o especialista, acrescentando que a invasão também pode ameaçar a biodiversidade já contemplada por políticas ambientais em Unidades de Conservação (UC) — áreas naturais protegidas por lei. O primeiro registro de peixe-leão no estado, a propósito, aconteceu em uma dessas regiões, onde a Sudema decidiu concentrar as atuais atividades de monitoramento. “A gente tentou priorizar a maioria dos mergulhos dentro da Unidade de Conservação, já que o levantamento nessa área era um primeiro ponto focal para termos a dimensão do problema e, também, preservar esses espaços”, justifica Leandro.

Por se alimentar de peixes menores, o animal invasor oferece riscos, inclusive, à atividade da pesca artesanal. Pescadores que atuam na Praia da Penha, em João Pessoa, afirmam já  ter avistado peixes-leão pela região. Ao lado de mergulhadores e ambientalistas, esses trabalhadores vêm sendo contatados pela Sudema para auxiliar no mapeamento dos locais que têm sido habitados pela espécie, em um esforço institucional que ainda mobiliza instituições como o Batalhão Ambiental da Polícia Militar (PMPB) e a UFPB.

Órgão estadual planeja campanhas para instruir a população sobre o problema

 Conscientização

O órgão também pretende promover campanhas para conscientizar a população em geral sobre o problema ambiental. Conforme a bióloga Karina Massei, pesquisadora do Programa Estratégico de Estruturas Artificiais Marinhas da Paraíba (Preamar), iniciativas educativas têm um papel importante para instruir a sociedade sobre como identificar um espécime e os cuidados a serem tomados diante do animal — o qual, apesar de lançar toxinas que podem provocar febre e vermelhidão na pele, não ataca pessoas.

A especialista orienta que, ao se avistar um peixe-leão, não se deve tentar capturá-lo, mas acionar órgãos especializados. “Como ele é territorial, ele não vai sair de lá. Então vão os profissionais, com equipamentos adequados, garantindo que não se tenha risco, para poderem capturá-lo”, ressalta Karina, indicando que, para enviar registros de avistamento da espécie e contatar os responsáveis pelas capturas, pode-se acessar o site do Sistema de Monitoramento da Fauna Marinha Paraibana (Sisfaumar): https://www.sisfaumar.com.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de dezembro de 2024.

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A União

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