Número de laqueaduras realizadas pelo SUS aumenta 86% após mudanças na legislação


Foram 106 mil procedimentos em 2022 e quase 200 mil em 2023. Só no primeiro semestre de 2024, foram 136 mil. Procura por laqueadura no SUS aumenta mais de 80%
Reprodução/TV Globo
A procura pelos procedimentos de ligadura de trompas teve um aumento de mais de 80%, no Brasil, depois que a legislação mudou.
A auxiliar de serviços gerais, Meivane Bianco, fez a laqueadura com 42 anos e dois filhos. Foi uma questão de saúde.
“Eu usava um método anticoncepcional, e o injetável… Eu passava mal, o fluxo sanguíneo aumentou bastante, aí só teve a laqueadura”, conta Meivane.
Na cirurgia de laqueadura, os médicos cortam ou bloqueiam com um anel de silicone as trompas de Falópio, que ligam o ovário ao útero, para evitar que os espermatozoides encontrem os óvulos, impedindo a gravidez.
“É uma cirurgia de recuperação muito rápida. A imensa maioria das pacientes pode ter alta no mesmo dia ou, no máximo, no dia seguinte”, explica José Carlos Monteiro. coordenador do serviço de ginecologia do Hospital da Mulher Bahia.
A laqueadura é um procedimento eficiente, mas irreversível. Por isso, a partir do momento em que assina o termo de consentimento, a paciente é obrigada, por lei, a esperar no mínimo 60 dias para dar entrada no hospital e fazer a cirurgia. É um tempo para que ela pense bem e possa desistir caso mude de ideia.
O número de laqueaduras realizadas pelo SUS em todo o país aumentou de 106 mil em 2022 e para quase 200 mil em 2023 – um crescimento de 86%. Só no primeiro semestre de 2024, foram 136 mil procedimentos.
Em março de 2023, a idade mínima para se submeter a essa cirurgia no Brasil passou a ser de 21 anos, com filhos ou não; antes, a lei exigia 25. As mulheres que já têm pelo menos dois filhos vivos podem fazer até antes dos 21 anos. A ginecologista Consuelo Callizo reconhece os avanços, mas faz um alerta:
“Uma paciente de 21 anos, sem filho nenhum, às vezes ela vai mudar de ideia daqui a quatro, cinco, seis anos, então a gente realmente pede para que ela pense bem no assunto para que possa fazer, mas, se mesmo assim elas decidirem, será feito”, enfatiza a médica.
Procura por laqueadura no SUS aumenta mais de 80%
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As mulheres também não precisam mais da autorização do marido ou companheiro, como antes. O professor e pesquisador na área de crescimento populacional, Clímaco Dias, diz que a legislação facilitou a vida de quem não quer engravidar por causa das dificuldades econômicas.
“Ela pensa no emprego, na habitação, na possibilidade desse filho ou dessa filha ter uma educação de qualidade. Então tudo isso é custo, tudo isso é caro”, pontua.
A autônoma Raiane Souza já tinha a Heloísa, e agora chegou o Miguel. Depois do segundo filho, a mãe de 24 anos que mora em Feira de Santana, no interior da Bahia, decidiu fazer a laqueadura.
“Tanto na educação quanto na criação das crianças está muito difícil hoje em dia criar um filho. É um direito nosso e temos esse direito para botar em ação”, afirma.
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