‘Quero justiça’: mãe de criança que teve cabeça cortada no parto em SC conta como está a filha

A alegria de um parto se transformou em luta por reparação e justiça para uma mãe de Araquari, no Norte de Santa Catarina. Um ano e quatro meses após ter a cabeça cortada durante o nascimento na Maternidade Darcy Vargas, em Joinville, a criança testou positivo para HIV, e a mãe pede por justiça. Este caso se soma a outra denúncia por negligência, mais recente, que veio à tona após um bebê sofrer um corte durante o parto na última segunda-feira (18).

Parto ocorreu na Maternidade Darcy Vargas, em Joinville

Um ano e quatro meses após lesão, criança ainda sofre convulsões – Foto: Acervo pessoal/Reprodução/ND

Desde que nasceu, a menina já foi submetida a, pelo menos, três testes de HIV, já que mãe convive com a doença. Segundo a advogada Stephanie Corazza, que acompanha o caso da família, a mãe cumpriu o protocolo exigido na gestação para evitar a contaminação da criança.

Após os testes anteriores resultarem negativos para o vírus da AIDS, o último, realizado recentemente, foi positivo, apontando que a criança pode ter sido exposta ao HIV durante o parto. Uma contraprova deverá ser realizada em breve.

Família alega falta de assistência

“Meu psicológico ficou mexido, pois até hoje sofro com isso por motivo de não darem assistência. Simplesmente fizeram como se não tivesse acontecido nada. Só quero justiça, minha filha quase morreu por culpa deles”, diz a mãe, que prefere não ser identificada.

De acordo com a mulher, uma nova perícia deve ser realizada com ela e com a criança. “Deixaram pedaços de placenta dentro de mim e retiraram apenas no outro dia”, conta. Segundo ela, a filha tem sofrido com convulsões. “Toma remédios controlados e está fazendo acompanhamento”.

Família apresentou ação após parto

Segundo a advogada que representa a família, uma ação foi apresentada ao Poder Judiciário ainda em 2023, pedindo reparação pelos danos causados. “O processo está correndo mais lento que do que o usual. Estamos aguardando que seja marcada perícia”, diz a advogada.

Ainda conforme Corazza, “o atendimento prestado pelo Estado é somente via SUS, assim como em qualquer caso de acompanhamento comum, sem muitas preocupações quanto às consequências ocasionadas pelo erro no parto”, explica.

O que diz a Secretaria de Estado da Saúde sobre lesão durante parto

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que está prestando assistência e segue fazendo acompanhamento ambulatorial da criança no Hospital Infantil. “A mesma esteve no dia 18 de julho na unidade para realização de exames”, afirma.

“Referência no atendimento pediátrico na região, o Hospital Infantil Jeser Amarante Faria, de Joinville, está prestando assistência e segue fazendo acompanhamento ambulatorial da paciente citada. A mesma esteve no dia 18 de julho na unidade para realização de exames.

Além disso, conforme pactuação municipal, os locais de atendimento do recém-nascido, após os cuidados na maternidade, são a Unidade Básica de Saúde, a Vigilância Epidemiológica e o próprio Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, locais especializados para o atendimento necessário.

A Maternidade Darcy Vargas reforça que toda a assistência necessária foi prestada tanto à gestante quanto ao recém-nascido. A unidade segue atenta aos critérios preconizados pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pelo SUS, cumprindo todos os protocolos assistenciais”.

A reportagem do Grupo ND procurou a Polícia Civil e solicitou informações sobre o andamento da investigação. Até a publicação desta reportagem, porém, não houve retorno. O espaço permanece aberto.

Novo caso de possível negligência durante parto na Darcy Vargas

“Um dia que parecia que ia ser o dia mais feliz de nossas vidas, mas de repente virou um dia de muita preocupação”, é assim que a avó da pequena Alice relata o nascimento da neta na última segunda-feira (18), em Joinville.

A bebê, que nasceu na Maternidade Darcy Vargas, sofreu um corte durante parto. Inicialmente, o ferimento foi repassado à família como algo “superficial”. Mas a recém-nascida precisou ser transferida em uma ambulância para o Hospital Infantil da cidade.

O nascimento da pequena Alice precisou ser realizado por cesárea, já que a bebê estava em uma posição pélvica que impossibilitava o parto natural. A direção da maternidade afirmou que o procedimento foi realizado por dois médicos, que tiveram dificuldade para retirar a recém-nascida devido à posição de pernas e pés.

Segundo a avó, Dálida do Amaral Ruiz, a família acreditava que o parto havia ocorrido bem, já que Alice nasceu “saudável” com três quilos e 550 gramas. Porém, poucos minutos após o parto, a equipe médica contou sobre o acidente que aconteceu durante a cirurgia. “O médico veio e disse que havia acontecido um ‘pequeno corte’ nas partes íntimas da Alice”, relatou Dálida.

Até aquele momento, no entanto, a família não se preocupou, já que a equipe do hospital alegou não ter sido algo grave. “Quando veio a notícia que ela seria transferida para o Hospital Infantil, aí ficou um pouco preocupante. Quando abriu a porta da ambulância veio aquele sentimento que dói muito fundo. Ver aquele serzinho tão pequeno, sadio, que nasceu perfeitinho, que veio para cá [hospital] por causa de um descuido”, contou a avó.

Suporte à família

Dálida afirma que nem a maternidade nem o Estado prestam suporte à família, o que contradiz o posicionamento da SES (Secretaria de Estado da Saúde). “A direção da maternidade ressalta que tanto a mãe quanto os familiares seguem recebendo atenção e cuidado pelas equipes do hospital. O caso também está sendo analisado pelo Núcleo de Qualidade e Segurança”, afirmou a pasta em nota.

Já a avó de Alice afirma que o único suporte prestado foi o encaminhamento da recém-nascida ao Hospital Infantil. “Nessa hora podia ter um psicólogo para falar com a minha nora, podia ter outra falando com o meu filho. Então, para nós, a gente ficou totalmente desprovido de qualquer coisa, como se fosse algo normal, só um cortezinho”, disse.

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