Indiciado pela PF, ex-assessor de Bolsonaro participou de reunião de minuta do golpe e já foi investigado por gesto racista


Indiciamento por tentativa de golpe de Estado foi feito nesta quinta-feira (21). Filipe Martins nasceu em Sorocaba (SP) e foi assessor especial para assuntos internacionais da presidência da República. Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro e indiciado em investigação sobre golpe
Reprodução/Instagram
O sorocabano Filipe Martins, ex-assessor do governo de Jair Bolsonaro (PL), foi um dos indiciados nesta quinta-feira (21) no inquérito da Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado. Além dele e do ex-presidente, outras 35 pessoas foram indiciadas no mesmo caso. Ele teria participado da chamada minuta do golpe, após as eleições presidenciais de 2022.
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O sorocabano também foi alvo de uma operação da Polícia Federal sobre o mesmo assunto, sendo preso em 8 de fevereiro deste ano após ser encontrado no apartamento da namorada dele, em Ponta Grossa (PR). Em 9 de agosto, a prisão dele foi revogada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro
Reprodução/Twitter
Participação na minuta do golpe
Bolsonaro, ex-ministros e militares são alvos da PF
Conforme a investigação da Polícia Federal, Filipe Martins foi apontado pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid como o responsável por entregar para Bolsonaro a minuta de um documento que previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a realização de novas eleições no país – medidas que não tinham amparo constitucional e, na prática, representariam um golpe de Estado.
Martins teria recebido assessoria jurídica de um professor de direito administrativo e constitucional na elaboração do documento.
De acordo com a apuração da CPI dos atos golpistas, Bolsonaro recebeu o documento das mãos de Filipe Martins, leu e pediu alterações na ordem do texto, decidindo manter apenas a prisão de Moraes e a convocação de um novo pleito eleitoral.
O g1 pediu um posicionamento para a defesa de Filipe Martins e aguarda retorno.
Depois do indiciamento
O indiciamento significa que a PF viu fatos suficientes para considerar que Martins e os demais investigados têm participação na trama golpista que tentou tirar o mandato do presidente eleito em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A PF apresentou o relatório com os indiciamentos para o Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, o ministro relator do caso, Alexandre de Moraes, deve enviar o material para análise da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Se a PGR entender que há elementos suficientes que demonstram a participação nos atos, vai oferecer à Justiça uma denúncia contra os envolvidos. Os indiciados viram réus apenas se a denúncia for acolhida pelo STF.
Conheça os alvos da operação sobre tentativa de golpe em 2022
Nomeado em 2019
Filipe Garcia Martins Pereira foi nomeado assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, no governo de Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019.
Martins nasceu em Sorocaba (SP), mas também morou em Votorantim. Ele estudou relações internacionais na Universidade de Brasília (UNB).
No cargo, Filipe atuava como intermediário entre o ex-presidente e o Ministério das Relações Exteriores.
Pelas redes sociais, Filipe também se apresenta como professor de política internacional e analista político. Desde as eleições presidenciais de 2022, ele não fez mais nenhuma publicação.
Investigado por gesto racista
Em junho de 2021, Filipe Martins foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público Federal no Distrito Federal por um gesto feito por ele em uma sessão no Senado, em março daquele ano.
O sinal de “OK”, feito pelo ex-assessor, é usado por grupos extremistas e foi classificado como “uma verdadeira expressão da supremacia branca” pela Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), organização dos Estados Unidos que monitora crimes de ódio.
Segundo o MPF, Martins “agiu de forma intencional e tinha consciência do conteúdo, do significado e da ilicitude do seu gesto”.
Assessor especial de Bolsonaro, Filipe Martins (ao fundo), faz gesto com a mão durante sessão do Senado
Reprodução/TV Senado
Ainda de acordo com o MPF, Martins teria um “histórico de menções a símbolos de extrema-direita”. Clique aqui para ver os casos.
Martins era da chamada “ala ideológica” do governo, ligado ao escritor Olavo de Carvalho, e também de confiança dos filhos de Bolsonaro. Na época, embora o Palácio do Planalto tenha considerado a exoneração do exoneração do assessor, ele continuou no cargo.
Ex-assessor de Bolsonaro ao lado de Olavo de Carvalho
Reprodução/Instagram
Tentativa de ocultar presença
Em 2021, a Polícia Federal apontou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que uma advogada tentou ocultar, nos registros oficiais, a presença de Filipe Martins na tomada de dois depoimentos no inquérito sobre a atuação de uma milícia digital no país.
Martins esteve presente nas oitivas dos empresários norte-americanos Jason Miller – ex-assessor de Donald Trump e fundador de uma “rede social de direita” – e Gerald Brant, amigo da família Bolsonaro.
O ex-assessor era defensor de um alinhamento com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em 2019, ele chegou a publicar uma foto ao lado de Trump afirmando que “uma aliança estratégica entre Brasil e EUA em torno de uma visão de mundo e de uma filosofia comuns será decisiva na defesa do Ocidente”.
Na mesma publicação, ele utilizou o termo “Deus Vult!”, que significa “Deus quer”, que foi utilizada nos últimos anos por integrantes da extrema-direita, que se espelham em símbolos da Idade Média e das cruzadas para defender, entre outras coisas, a superioridade de grupos brancos, cristãos e conservadores em relação a outros, como muçulmanos.
Publicação de ex-assessor de Bolsonaro ao lado de Donald Trump
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