Roberto Campos Neto, os “malvados da Faria Lima” e a “dica” para o governo

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Às vésperas do anúncio do pacote do governo para reduzir o déficit fiscal, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, advertiu para a importância de que as medidas previstas  gerem “um choque positivo” na área fiscal com o objetivo de reduzir os prêmios de risco dos ativos brasileiros.

“A elevação do prêmio de risco está ligada à desconfiança de que o governo não vai conseguir atingir o equilíbrio fiscal no longo prazo”, afirmou Campos Neto, nesta terça-feira, 19 de novembro, em evento da Associação Comercial de São Paulo.

Segundo ele, a inflação brasileira vinha se estabilizando, mas a desancoragem vista nos últimos tempos acabou levando o BC a aumentar a taxa Selic. “Agora é difícil o juro cair sem um choque positivo na política fiscal”, afirmou, acrescentando que, em várias situações, a tentativa de fazer a economia crescer via pacote fiscal tem efeito contrário.

Campos Neto lembrou com ironia que a desancoragem da inflação e que piora das expectativas têm sido atribuídas “aos malvados da Faria Lima”, numa referência ao mercado financeiro, mas observou que geralmente são “as empresas do mundo real” que têm uma percepção maior de piora da inflação.

O presidente do BC reconheceu os esforços da equipe econômica que resultaram no crescimento do PIB. “Mas esse crescimento não é resultado apenas da expansão fiscal, há também efeito das estruturas dos últimos anos, como a reforma trabalhista e da previdência, entre outras.”

Em seguida, voltou a criticar proposta de redução da jornada de trabalho, de 44 horas para 36 horas semanais, chamada de 6×1, que está em discussão no Congresso Nacional. Segundo ele, o projeto em discussão vai na contramão da modernização do mercado de trabalho, que está mais flexível.

“Essa proposta contraria a reforma trabalhista que foi feita, voltar atrás não vai ser bom para o trabalhador por aumentar o custo de mão de obra e elevar o desemprego, além estimular o crescimento da economia informal”, afirmou. “Impor mais deveres aos empregadores não significa mais benefícios aos trabalhadores.”

O presidente do BC previu que mundo vai passar por uma “fase desafiadora” daqui para frente, num cenário de redução de crescimento da China e da perspectiva de políticas protecionistas a serem implementadas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

“Os juros altos para domar a inflação estão impactando no endividamento dos países no pós-pandemia”, afirmou, calculando em três vezes o custo dos juros com a dívida maior dos países. Campos Neto disse que o aumento da inflação e a posterior desaceleração na alta dos preços globais foi puxada pelos bens industriais.

“A inflação de bens industriais parou de cair, mas a inflação de serviços, que ainda está elevada, é o maior empecilho para a convergência da inflação para a meta, aqui e em outros países.”

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