Após pressão do movimento negro, luminárias japonesas são retiradas de rua da Liberdade que abrigará memorial a escravizados


Decisão, segundo a prefeitura, foi para garantir que a “memória de cada grupo seja adequadamente representada”. Restante do bairro segue com os tradicionais postes de iluminação asiáticos. Após pressão do movimento negro, luminárias japonesas são retiradas de rua da Liberdade que abrigará memorial a escravizados
Após pressão de ativistas do movimento negro, as luminárias japonesas da Rua dos Aflitos, no bairro da Liberdade, no Centro de São Paulo, foram substituídas por LED. O restante do bairro ainda segue com os tradicionais postes de iluminação asiáticos.
No fim da rua, fica a Capela dos Aflitos, igreja construída em 1779 onde havia um cemitério de escravizados. No ano passado, a Prefeitura de São Paulo anunciou a construção de um memorial no local para homenagear a memória negra no bairro.
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Segundo a administração municipal, a decisão de trocar as luminárias foi para “equilibrar o respeito às diferentes camadas históricas e culturais presentes no bairro” e garantir que a “memória de cada grupo seja adequadamente representada”.
Em nota, a prefeitura da capital confirmou que a substituição das luminárias no endereço foi “uma medida tomada em resposta ao pedido de entidades ligadas ao movimento negro, que manifestaram preocupações quanto à adequação das lanternas Suzuranto ao contexto histórico da região”. (Confira íntegra abaixo)
Programa Ruas Abertas no bairro da Liberdade, em São Paulo
CRIS FAGA/ESTADÃO CONTEÚDO
A Associação Amigos da Capela afirmou à TV Globo que a remoção “é fruto de uma luta de seis anos”.
“A reurbanização do Beco dos Aflitos faz parte do projeto Ruas Abertas”, disse, em nota. “Reparação aos nossos ancestrais, dando visibilidade a Capela dos Aflitos, patrimônio histórico tombado”.
Para Hubber Clemente, hoteleiro especializado em afroturismo e membro da Associação, o pedido de remoção não se trata de uma disputa entre as duas culturas. “Não é uma disputa entre os povos negros e a cultura japonesa, as duas podem se conversar sem problema algum em relação a esse território. O que a gente não deseja é um apagamento de uma em detrimento a outra”, afirma.
“Nós precisamos reforçar também que a liberdade, que essa região, que esse território, foi, num primeiro momento, ocupado por pessoas negras”, conta. “A partir do momento em que se tira essas luminárias, que foram colocadas em um lugar que é muito importante para a história e para a cultura negra na cidade de São Paulo, a gente consegue preservar mais as características originais”.
Cemitério
Em 2018, foi descoberto um antigo cemitério, onde foram enterrados escravizados, indígenas e condenados à forca. Na época, os pesquisadores informaram que as ossadas identificadas inicialmente foram enterradas no período de 1775 a 1858, comprovando a existência do Cemitério dos Aflitos, até então só conhecido por documentos.
Dois anos depois dos achados, em 2020, a Prefeitura autorizou a desapropriação do terreno do antigo para a construção do Memorial dos Aflitos.
Atualmente, o local passa por obras para abrigar o memorial. No início de novembro, o g1 noticiou que, por conta de uma reforma indevida, parte da parede de um prédio vizinho das obras tombou e caiu dentro da área de escavações.
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O que diz a Prefeitura
“A SP Regula informa que a substituição das luminárias no Beco dos Aflitos, no bairro da Liberdade, foi uma medida tomada em resposta ao pedido de entidades ligadas ao movimento negro, que manifestaram preocupações quanto à adequação das lanternas Suzuranto ao contexto histórico da região.
Em compromisso com a transparência e o diálogo com a sociedade, sempre buscando soluções que respeitem a diversidade cultural e histórica da cidade, as lanternas, que remetem à imigração japonesa, foram consideradas inadequadas para o local, uma vez que o Beco dos Aflitos abriga a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, um marco histórico da época da escravidão no Brasil. A mudança foi feita antes do Dia da Consciência Negra, mas as lanternas Suzuranto foram mantidas no restante do bairro, preservando a herança da imigração japonesa. A decisão buscou equilibrar o respeito às diferentes camadas históricas e culturais presentes no bairro, garantindo que a memória de cada grupo seja adequadamente representada”.
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