O Coringa-bomba e a semana difícil

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Já não bastasse a semana que já vinha estranha aqui e no mundo, de repente mais surpresa, boom!, o homem vestido meio que de coringa se explode, não sem antes explodir deixar outras bombinhas escondidas por Brasília. Até na gaveta que sabia que os policiais procurariam, salvos foram pelo robozinho que a abriu. Fanatismo mata, a gente vem avisando faz tempo.

 Uma tosse horrorosa, constante, seca, daquelas que vai sugando a energia. Mais uma praga de saúde que está solta pegando muita gente, e me pegou também.  Derrubou. A dor de cabeça estonteante.  O cérebro congestionado. Uma semana assim e agora tentando alinhar que não faltaram motivos para somatizar mais ainda e a demora para a recuperação. O noticiário. Daqui, do mundo. A notícia da morte repentina de uma amiga e grande colaboradora, Laurete Godoy, além de uma mulher maravilhosa, a maior conhecedora da vida e obra de Santos Dumont, gentileza e espiritualidade positiva em pessoa. Baque.

Aí, em meio às anunciadas decisões de Trump que já entorpecem o ano que vem quando tomar posse, o desequilíbrio geral, social e econômico da nação, no começo de uma noite que tinha tudo para ser ao menos rotineira, a notícia das explosões em Brasília, o corpo despedaçado diante da estátua da Justiça, o corre-corre. Talvez vocês não tenham noção de como esses acontecimentos abalam a nós, jornalistas, mesmo que não estejamos em meio aos fatos. Por hábito. Deve ser também assim com economistas e os abalos das moedas e bolsas. Dos engenheiros com os desmoronamentos. Dos cientistas ao saber do avanço dos negacionistas. Dos pacifistas com mortes diariamente contadas às dezenas em guerras esquecidas pelos cantos.

Não é de hoje que alertamos que muitas coisas estão fora da ordem, vindas de todos os lados, e de alguma forma praticamente todas ligadas ao que se pode chamar de fanatismo, político, religioso, seja lá sua origem. O exemplo do estranho homem bomba-bombinha, que resolveu deitar o cabelo em uma delas se imolando depois do show não poderia ser mais significativo. Um show premeditado por meses, de alguma forma anunciado sem ter sido levado a sério. Passeando pelos locais mais emblemáticos da Capital Federal com seu chapeuzinho. Tirando e postando fotos sorridentes, historiando seus planos, finalizados com fogos de artificio em noite chuvosa. No qual foi ele a maior vítima, desde sempre. Buscou deixar um papel de figurante, igual à mocinha que participou da cena da novela por segundos e que viralizou, obrigando que a conhecêssemos.

Agora conhecemos o figurante Francisco Wanderley Luiz, o que desejava matar ministros, sua vidinha toda escarafunchada, a família destruída, os amigos pasmos como aquele homem e sua vida comum transformou-se num terrorista fracassado estendido no chão, símbolo do golpismo, da escalada de ódio crescente, dos erros de várias partes da História, inclusive dos poderes e equívocos da Justiça que atacou sem boa pontaria naquele começo de noite. Era uma noite fria e tempestuosa, diria o Snoopy.

Penso que ele nem se atinou, com seu ato embandeirado em verde e amarelo – no calendário que planejou – na grande reunião de líderes mundiais no G20 no Rio de Janeiro, na mesma época. Nem mesmo na data de Proclamação da República, dois dias depois. Seu pensamento estava apenas ali, no alvo que desenhou. Deixou o carro explodir no estacionamento do Congresso. Ponto. Correu para continuar suas traquinagens, gastou seu dinheirinho construindo bombas, alugando um quartinho, um trailer de onde durante meses alimentou seu plano. Estava sozinho nessa? Maluco? Extremista? Ou Coringa tropical? Vamos sabendo mais com o avanço das investigações. O que se tem certeza: mais um fruto do fanatismo que tanto alertamos, crescente, perigoso, e que tem aparecido com frequência, mas só quando estoura.

Na tal semana difícil, contudo, ele explodiu junto outros assuntos importantes como a escala de trabalho que estava sendo discutida, assim como os cortes nos gastos governamentais, e, por incrível que pareça, a outra insanidade do assassinato à luz do dia, na frente do maior aeroporto do país,  do delator do PCC, fuzilado, e que acabou fazendo ainda mais uma vítima, um motorista de aplicativo.

O que estamos virando?

Marli Gonçalves – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano, Coleção Cotidiano, Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital. [email protected] [email protected]

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Fonte

Diario do Poder

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