SC teve um feminicídio a cada 4 dias em 2024

Santa Catarina registrou 17 feminicídios em 2024 até esta terça-feira (19). É o equivalente a uma mulher assassinada a cada quatro dias. Casos que deixam um buraco nas famílias, causam revolta e levantam a pergunta: como é possível reduzir este número? No mesmo período de 2023, foram 14 crimes, conforme o delegado-geral Ulisses Gabriel, da Polícia Civil de Santa Catarina.

Casos recentes, como o brutal assassinato de uma mulher de 32 anos na última sexta-feira (15), no bairro Bela Vista, em São José; de Diomeida Del Carmen Rivas e Gloribel Del Carmen Rivas, mãe e filha mortas em Joinville; o feminicídio de Antonella de Rosa, mulher italiana morta pelo companheiro; e a idosa de 71 anos morta por golpes de facão em Gaspar, escancaram o dado.

Para Júlia Melim Borges Eleutério, mestra em Direito e integrante do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), o problema é cultural e complexo, e o enfrentamento e combate da violência contra mulheres é uma questão humanitária. Júlia, que também é conselheira do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Santa Catarina, pesquisadora e professora no curso de Direito da Faculdade Anhanguera de Joinville, cita, ainda, que este é um dos maiores desafios da sociedade brasileira.

— Penso que conscientização através da educação, criação de ações preventivas, investimento em capacitação de mulheres para acesso ao mercado de trabalho e renda e aplicação do Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero (publicação do CNJ que resultou na Resolução 492) pelo Poder Judiciário em processos judiciais são estratégias válidas para combater a violência de gênero — afirma.

Legislação e educação para prevenir violência contra mulheres

Desde 2020, Santa Catarina mantém números semelhantes de feminicídios. Segundo o Observatório da Violência contra a Mulher do Estado, em 2020, foram 57; em 2021, 55; em 2022, 57; em 2023, 56. Para a advogada, o Estado tem papel importante para erradicar a violência contra a mulher.

— Priorizar políticas públicas efetivas que possam reduzir o número de mortes de mulheres é importante. Assim, o Estado deve adotar medidas abrangentes e efetivas que integrem legislação, capacitação, prevenção, educação e apoio às mulheres em situação de violência — pontua.

Ela ainda cita a importância das denúncias. Afinal, a partir delas é possível solicitar medidas protetivas e afastamento do agressor, o que pode parar práticas violentas.

— A denúncia é difícil para uma mulher que está em situação de violência e, muitas vezes, para que ela denuncie, ela passa por um processo de pré-autoconscientização e reconhecimento de si — afirma.

Ela reconhece, no entanto, que este nem sempre é o caso:

— Isso não ocorre em todas as situações, pois mesmo com a aplicação das medidas protetivas, homens agressores reiteram violência contra a mulher, descumprem o comando legal e, quando isso ocorre, deve ser decretada pelo Poder Judiciário sua prisão preventiva. Temos um longo caminho pela frente e é importante a união de esforços entre sociedade e Estado para que possamos, juntos e juntas, persistir na luta pela igualdade de gênero.

Novos casos em Joinville e Tijucas

Entre os dias 10 e 19 de março, outros dois feminicídios foram registrados no Estado, em Joinville e Tijucas.

O caso de Joinville foi no domingo, e a vítima ainda não foi identificada. O suspeito do crime é um homem de 56 anos, ex-companheiro da vítima, de 53. Ele teria invadido a casa dela durante a noite. Quando a polícia chegou, o suspeito ainda estava sobre a mulher, já morta. Ele tinha uma faca cravada no peito, e precisou de atendimento médico.

Conforme apurado pela PM, uma testemunha relatou que, durante a tarde, a vítima e o ex-companheiro estavam em um baile e até teriam dançado. Porém, a mulher não queria mais se relacionar com ele. A testemunha também contou que o suspeito teria afirmado que “iria fazer uma besteira” pois não aceitava o fim do namoro.

Em Tijucas, uma servidora pública foi morta a facadas na tarde de terça-feira (19). De acordo com a Polícia Militar, o suspeito pelo crime é primo da vítima. Ele foi preso horas após cometer o assassinato. Natieli Palma tinha 31 anos e era servidora pública há sete. (NSC)

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